Folha de S.Paulo, 9/11/2012
Grupo formado pelos prefeitos das maiores cidades do mundo mostra ascensão do poder local
O que terá mais consequências para o mundo: os próximos quatro anos de Barack Obama no poder ou os próximos dez de Xi Jinping no comando da China? A eleição da terça nos EUA foi importante, mas talvez a reunião dos 2.300 delegados ao 18º Congresso do Partido Comunista chinês, que começou ontem em Pequim, seja mais importante.
Nessa reunião, será escolhida a liderança da segunda maior economia do mundo. Essa liderança ficará no poder por mais tempo e terá mais autonomia em suas decisões que o presidente dos Estados Unidos. Mas não são só os líderes chineses que têm mais influência.
Embora Barack Obama tenha tido uma atuação muito aplaudida em resposta ao furacão Sandy, os protagonistas principais foram o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, e o governador de Nova Jersey, Chris Christie.
Mas essa é apenas uma manifestação a mais de uma tendência mundial que transcende as catástrofes. Em toda parte observa-se uma fuga do poder do governo nacional em direção aos governos provinciais e locais. O presidencialismo está dando lugar à liderança local. A descentralização da autoridade é uma tendência global.
Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), me relatou uma experiência que ilustra bem essa tendência. Em junho, Moreno participou da Rio+20, a terceira cúpula sobre o ambiente. Estiveram presentes representantes de 192 países, incluindo 88 chefes de Estado.
Como já é de praxe nessas reuniões multilaterais, os acordos fechados durante a Rio+20 refletiram certo progresso, mas também geraram muita frustração. Ninguém ficou satisfeito. Aprovar acordos que representam o mínimo denominador comum é a norma nessas cúpulas internacionais.
Mas o que a descentralização tem a ver com tudo isso?
A resposta é: C40.
Alguns dias antes da grande cúpula de chefes de Estado no Rio de Janeiro, reuniu-se em São Paulo um grupo chamado C40, formado pelos prefeitos de 40 grandes cidades. Eles estão determinados a atuar com eficácia e em conjunto para reduzir as emissões de carbono.
O comitê diretivo do C40, hoje presidido pelo prefeito Bloomberg, é integrado por seus colegas de Berlim, Hong Kong, Jacarta, Johannesburgo, Los Angeles, Londres, São Paulo, Seul e Tóquio. As grandes cidades possuem peso determinante na poluição que alimenta as mudanças climáticas. Mais de 50% da população mundial vive em cidades que consomem 75% da energia e produzem 80% dos gases estufa.
"Me impressiona o contraste entre o modo de atuar dos prefeitos do C40, baseado em iniciativas práticas, metas concretas e ambiciosas, e as intenções mais vagas que podem ser acordadas nas cúpulas de chefes de Estado", disse Moreno.
A ascensão dos líderes regionais e locais não se observa apenas em questões ambientais, mas também já se manifesta em muitas outras áreas. O poder está escapando dos palácios presidenciais.
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