14 de novembro de 2012

Quase metade da América Latina mudou de classe social em duas décadas


BRASÍLIA - Pelo menos 43% de todos os latino-americanos mudaram de classe social entre meados dos anos 1990 e o final da década de 2000. Além disso, considerando apenas a década de 2000, a pobreza moderada caiu de um patamar de 44%, em 2000, para menos de 30% em 2010. Esse declínio significa que 50 milhões de pessoas escaparam da pobreza durante a década. Os dados fazem parte do relatório "Mobilidade Econômica e a Ascensão da Classe Média Latino-Americana", que está sendo divulgado nesta terça-feira pelo Banco Mundial, simultaneamente em três países.
Isso mostra que o fenômeno de ascensão social da população e ampliação da classe média não é exclusivo do Brasil, embora o país tenha puxado este movimento na América Latina. "Uma região de renda média em via de se transformar em uma região de classe média", segundo o estudo.
De acordo com o documento, após décadas de estagnação, o tamanho da classe média na América Latina e no Caribe aumentou em 50% – de 103 milhões de pessoas em 2003 para 152 milhões (ou seja, 30% da população do continente) em 2009. Como resultado, as parcelas representativas da classe média e dos pobres na população latino-americana agora são quase iguais. Esses indicadores apresentam um evidente contraste com a situação que prevaleceu por um longo período, até cerca de 10 anos atrás, quando o percentual de pobres flutuou em torno de 2,5 vezes o da classe média.
Apesar do grande avanço, o relatório afirma que "que, infelizmente, apesar dos substanciais movimentos ascendentes intrageracionais, a mobilidade intergeracional continua limitada na América Latina".
Para o Banco Mundial, a América Latina se beneficiou de condições externas favoráveis nos últimos anos para garantir as transformações por que passou, mas, como o cenário internacional já não é o mesmo, talvez seja necessário um esforço muito maior dos governo para garantir a continuidade deste processo e evitar que as grandes expectativas da população se transformem em frustrações. O relatório defende mudanças importantes para permitir que essa classe média tenha acesso a serviços públicos, quando, na verdade, ela tem usado cada vez mais serviços privados (saúde, educação, segurança). Essas reformas no chamado contrato social deve ser o fator determinante para o apoio da classe média às reformas. De acordo com o estudo, a região se encontra em uma encruzilhada: "ela romperá (ainda mais) com o contrato social fragmentado, herdado de seu passado colonial, e continuará a buscar uma maior paridade de oportunidades ou vai adotar com muito mais ênfase um modelo perverso no qual a classe média não utiliza os serviços públicos e conta consigo mesma?".
O acesso à educação tem papel preponderante nesse movimento de crescimento da classe média. A população que ingressa nesse grupo tem um nível educacional mais elevado do que o grupo que é deixado para trás. Existe maior possibilidade dessas pessoas viverem em áreas urbanas e trabalharem no setor formal. É mais provável também que as mulheres de classe média tenham menos filhos e participem de forma mais ativa da força de trabalho do que as representantes do sexo feminino nos segmentos pobres ou vulneráveis, afirma o estudo.
Os pobres e vulneráveis dependem com mais frequência do trabalho autônomo (ou estão desempregados), enquanto os ricos são com mais frequência empregadores e, em alguns países, trabalhadores por conta própria. Os trabalhadores da classe média são encontrados com frequência no segmento de serviços como saúde, educação e os serviços públicos, mas os empregos industriais são mais frequentes entre a classe média (e os vulneráveis) do que entre os pobres ou os ricos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário