21 de novembro de 2012

Salvador: homicídios aumentam 5 vezes em 10 anos


Violência explode em Salvador

Retrato do Brasil
Estudo mostra que o número de homicídios quintuplicou em Salvador num período de dez anos. São 61 homicídios por 100 mil habitantes, cinco vezes mais do que a ONU considera suportável.



Sociólogo diz que investimento em segurança no eixo Rio-SP fez crime migrar para lugares despreparados para atacar problema


Guilherme Voitch
renato Onofre  O Globo, 21/11/2012

São paulo e rio Cidade que registrou 25 homicídios em apenas 72 horas no último fim de semana, de acordo com levantamento feito pelo GLOBO, Salvador vive há mais de dez anos uma explosão nos números de violência. Segundo o Mapa da Violência, do Instituto Sangari, em 2000 a capital baiana estava entre as três capitais com menores taxas de homicídios do país. Naquele ano, Salvador registrou 12,9 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2010, Salvador registrava 69 homicídios por 100 mil habitantes, um aumento de cinco vezes, pulando para a quarta colocação no ranking das capitais mais violentas, atrás apenas de Maceió, João Pessoa e Vitória. Hoje, Salvador tem a taxa de homicídios de 61 por 100 mil habitantes, cinco vezes mais do que estabelece as Organizações das Nações Unidas (ONU) como suportável para grandes cidades: de 12 por 100 mil.
Para o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, organizador do Mapa da Violência, alguns fatores somados explicam o acirramento da violência baiana. O principal, diz ele, diz respeito a uma disseminação da violência por todo país:
- Nos estados com as capitais mais violentas, como era o caso de São Paulo e Rio de Janeiro, aumentaram, e muito, os investimentos em segurança pública. Ao mesmo tempo, o país passou por uma fase de desconcentração econômica, com a chegada de polos industriais em áreas do interior do Brasil e do Nordeste.
Combinados, esses dois fenômenos, afirma o sociólogo, promoveram uma migração do crime para localidades que não estavam preparadas para enfrentar essa criminalidade.
- Isso aconteceu muito no Nordeste. O aparelho policial não estava pronto para aquele tipo de criminalidade - explica o especialista.
De acordo com Jacobo, esse aumento nos indicadores de violência de estados até então mais pacíficos, foi um fenômeno nacional , mas ocorreu com força especial em Alagoas e na Bahia.
Para o professor Eduardo Paes Machado, especialista em Sociologia do Crime, Vitimização, Violência Relacionada ao Trabalho e Segurança Pública da Universidade Federal da Bahia, a perda da autoridade do Estado no setor de segurança pública é uma das causas do aumento da violência.
- O crescimento da criminalidade se deve à ineficácia do sistema de contenção da violência. O modelo de combate está falido. Tem que haver uma nova engenharia jurídico-policial para acabar com essa espiral de violência. A política de retaliação não funciona mais. Antes, o aumento de contingente policial nas ruas bastava para reduzir a onda de violência. Hoje, não. O que vemos é o Estado se igualando aos bandidos, partindo para a retaliação.



Polícia procura quadrilha que estuprou promotora em Salvadorrio, são paulo e salvador Dos 20 municípios mais violentos do país (com mais de 10 mil habitantes), cinco estão na Bahia, segundo o Mapa da Violência, do Instituto Sangari: Simões Filho e Lauro de Freitas, ambos pertencentes à Região Metropolitana de Salvador, além de Eunápolis, Porto Seguro e Itabuna.
- É um estado muito violento. É uma questão de calamidade pública - diz o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, que também vê uma normalização na notificação dos homicídios ao sistema de saúde. - Até a década de 90, tínhamos um problema de subnotificação na Bahia. Ao menos, isso não ocorre mais, o que ajuda no diagnóstico do problema.
Em 2011, foram registrados 4.380 mortes na Bahia, superando os assassinatos registrados no estado de São Paulo, onde foram contabilizadas 4.194 vítimas.
promotora é estuprada
A polícia baiana está à procura da quadrilha que sequestrou uma juíza e uma promotora de Justiça na noite de quinta-feira, no bairro da Pituba, na orla da capital baiana. Elas foram levadas para a periferia, assaltadas e agredidas. A promotora foi estuprada, segundo a polícia.
As vítimas foram abordadas por três homens quando estacionavam o carro próximo a um bar. Depois de rodar com as vítimas pela cidade, os bandidos liberaram a juíza e levaram promotora para uma casa, onde ela foi violentada. Ela só foi liberada na manhã seguinte.
Na semana passada, o coronel da PM Everton Tosta e sua mulher também foram vítimas de sequestro-relâmpago num condomínio do Litoral Norte do Estado. Outro caso que chamou a atenção foi o assalto, na manhã da quinta passada, de um ônibus, na avenida da orla, que transportava turistas do aeroporto para o Centro de Salvador. Os 40 passageiros foram saqueados.
A violência tem sido o principal problema da gestão do governador Jaques Wagner (PT). Ele qualificou o ataque à juíza e à promotora como um "absurdo", garantindo que a polícia está fazendo de tudo para prender os criminosos.
Dados mais confiáveis
O secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, explicou que o fato de o número de assassinatos no último fim de semana na Região Metropolitana de Salvador (25 casos) ter sido maior do que os dados apresentados pela polícia de São Paulo (24) e Rio de Janeiro (12) seria motivado pela melhor eficiência e transparência da coleta e veiculação de dados da Bahia.
- Nossos dados são atualizados a cada 12 horas, e as mortes são notificadas imediatamente após as equipes encontrarem os corpos - disse o secretário, especulando que isso não ocorreria nos outros estados.
Ainda segundo Barbosa, o último fim de semana foi atípico em razão do feriadão.
- A média dos assassinatos nos fins de semana em Salvador e nos 12 municípios da Região Metropolitana é de 14.
O secretário de Comunicação da Bahia, Robinson Almeida, admite que é grave o aumento da violência no estado, mas pondera que o governo não tem medido esforços para enfrentá-lo. Ele conta que o poder público criou "Pacto pela vida", plano que reúne órgãos do Estado, Judiciário e Ministério Público cuja função é acompanhar a questão da criminalidade e agilizar o combate, avaliando quinzenalmente a evolução dos números.
Almeida destaca também a implantação de dez bases comunitárias em bairros considerados violentos, a transferência de chefes de quadrilhas para presídios nacionais e a desarticulação de bandos de roubos a banco como providências do estado. Ele atribui os últimos casos de violência como "pontuais".

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