12 de janeiro de 2014

HÉLIO SCHWARTSMAN ,Território inexplorado


SÃO PAULO - "Não seria legal se tivéssemos um microscópio para medir a cultura humana?". É assim que Erez Aiden e Jean-Baptiste Michel, dois jovens matemáticos descrevem seu "insight" sobre a "culturomics", que é o uso de análises quantitativas de palavras em megabases de dados para estudar comportamentos e tendências culturais.
Juntar os termos "análise quantitativa" e "cultura" na mesma frase pode fazer com que alguns representantes das humanidades torçam o nariz, mas os resultados obtidos são interessantíssimos, para não dizer revolucionários. Aiden e Michel dão uma boa amostra disso no recém-lançado "Uncharted" (inexplorado).
A dupla, que ajudou a criar a ferramenta "ngram viewer" do Google (que busca todas as ocorrências de um termo qualquer numa base de vários milhões de livros já digitalizados pela empresa e dispõe os resultados na forma de gráficos), percorre áreas tão distintas quanto a linguística, o mundo das celebridades e os porões da censura.
Eles mostram como o "big data" lhes permitiu desenvolver uma nova teoria sobre a regularização dos verbos ingleses (dentro de alguns milênios, se o idioma ainda existir, todos os irregulares terão desaparecido), sugerem as melhores carreiras para quem quer ficar famoso (e para conservar a reputação depois de morto, o que é mais difícil) e, lamentavelmente, revelam que os esforços de governos totalitários para reprimir ideias funcionam (ainda que, no longo prazo, os regimes pereçam e as ideias não necessariamente).
Aiden e Michel não deixam de abordar questões difíceis trazidas pela revolução tecnológica, como a da perda de privacidade e o poder excessivo dos guardadores de dados. No campo da especulação, levantam a possibilidade de que o "big data" possa transformar a história numa ciência preditiva, algo que é ao mesmo tempo fascinante e aterrador.
Folha de S.Paulo, 12/1/2014

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