Após repercussão, encontros de jovens são marcados no Rio e em Brasília; associação de shoppings defende ação da justiça e ronda da Polícia Militar
13 de janeiro de 2014 | 23h 44
Bruno Ribeiro e Laura Maia de Castro
Depois das polêmicas decisões judiciais obtidas por shoppings de São Paulo contra os "rolezinhos" e da publicação de vídeos em que policiais militares agridem adolescentes, esses encontros de milhares de jovens em centros comerciais, marcados pelas redes sociais, foram rapidamente "exportados" para outras cidades e até outros Estados.
Nesta segunda-feira à tarde, nas redes sociais já era possível encontrar eventos marcados não só em shoppings de cidades do interior de São Paulo, como Bauru e Sorocaba, mas também em centros comerciais de Brasília e do Rio, em apoio aos eventos da capital paulista. No Shopping Leblon, que fica em uma das zonas mais caras do Rio, até a noite desta segunda, mais de 4 mil pessoas confirmaram na internet a presença em evento marcado para o próximo domingo.
A diferença em relação aos primeiros "rolezinhos", que ocorreram em dezembro em São Paulo, é que os novos são convites com o objetivo de protestar. "Em apoio à galera de São Paulo, contra toda forma de opressão e discriminação aos pobres e negros, em especial contra a brutal e covarde ação diária da Polícia Militar no Brasil, seja nos shoppings, nas praias ou nas periferias", diz a convocação do evento carioca. Os "rolezinhos" que terminaram em tumulto eram descritos como eventos para "beijar na boca" e "curtir a galera".
Reações. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) comentaram nesta segunda o incidente ocorrido no sábado em Itaquera, quando a Polícia Militar usou gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar cerca de mil jovens no Shopping Metrô Itaquera, que tinha uma liminar judicial proibindo o "rolezinho" marcado ali pelo Facebook. Vídeos mostrando PMs batendo em menores desarmados foram publicados na internet. Três pessoas - dois adultos e um adolescente - foram detidas sob suspeita de roubo. Os adultos foram liberados no mesmo dia. O menor foi internado na Fundação Casa (ex-Febem).
Alckmin disse que apura as denúncias de envolvimento de PMs em agressões e afirmou que a segurança no interior dos shoppings não é de responsabilidade do Estado. "Segurança interna de lojas, shoppings e centros comerciais é privada, o governo fica fora fazendo a segurança", disse.
Haddad afirmou que buscaria alternativas de lazer para os jovens. "Nós pedimos, por exemplo, a colocação de iluminação pública nos Clubes das Comunidades (CDCs). Você cria arenas que atraem o público jovem, que quer espaço para se manifestar. Essas providências estão sendo tomadas."
Shoppings. A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) defendeu nesta seguna a obtenção de liminares judiciais prevendo multa para "rolezinhos" como forma de impedir a realização desses atos.
Com uma dessas liminares exibidas em totens nas entradas, também no sábado, o shopping JK Iguatemi, na zona sul, um dos mais luxuosos da capital, fez uma seleção de quem poderia entrar no centro de compras. Até funcionários que se enquadravam na descrição de suspeitos foram barrados.
"O presidente da Associação, Nabil Sahyoun, cobrará da Prefeitura de São Paulo espaços públicos pouco utilizados da cidade para que esses jovens possam organizar suas festas de maneira passiva", diz a Alshop, em nota enviada no mesmo horário em que o prefeito defendia medida semelhante.
A associação quer também que a PM patrulhe, fardada, o interior dos centros de compras dentro do programa Operação Delegada. / COLABORARAM CAIO DO VALLE e CARLA ARAÚJO
Dez 'rolezinhos' em shoppings estão programados até fevereiro
Encontros são marcados nas redes sociais; no sábado, PM reprimiu ato no Shopping Metrô Itaquera com gás lacrimogêneo e balas de borracha
13 de janeiro de 2014 | 14h 07
Felipe Cordeiro - O Estado de S. Paulo - Atualizado às 06h55 do dia 14/01
Organizados em redes sociais, os "rolezinhos" já atraíram milhares de jovens a shoppings da Grande São Paulo e provocam polêmica. Antes vistos como uma bagunça originada da falta de opção de cultura e lazer na periferia, agora eles são discutidos como um preconceito contra a população pobre, após pelo menos cinco centros de compras terem conseguido liminar na Justiça que impede a realização de tais atos. No sábado, 11, a Polícia Militar reprimiu um "rolezinho" no Shopping Metrô Itaquera com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Nas redes sociais já há ao menos dez atos agendados até fevereiro.
No JK Iguatemi, na zona sul, um cartaz avisava no último sábado, 11, que o "rolezaum" tinha sido proibido e que os participantes poderiam ser multados em R$ 10 mil.
Nas redes sociais, vários participantes defendem o "acesso democrático" aos shoppings e afirmam que o "rolezinho" do rico é chamado de "flash mob", nome dado a aglomerações instantâneas marcadas para surpreender as pessoas em locais públicos.
O primeiro "rolezinho" ocorreu em 7 de dezembro no Shopping Metrô Itaquera, na zona leste, quando duas pessoas foram detidas por furto. Na semana seguinte, em 14 de dezembro, mesmo sem nenhuma queixa de roubo, 23 jovens foram detidos por "perturbação de sossego", depois de um ato no Internacional Shopping Guarulhos, na Grande São Paulo. Veja onde já ocorreram os "rolezinhos":
Às vésperas do Natal, foi a vez do Shopping Interlagos, na zona sul, receber o "rolezinho", em 22 de dezembro. Na ocasião, 25 jovens foram detidos por terem supostamente iniciado uma confusão. Em 5 de janeiro, o Shopping Metrô Tucuruvi, na zona norte, fechou as portas três horas mais cedo, mas ninguém foi detido.
O último "rolezinho" ocorreu no sábado, 11, novamente no Shopping Metrô Itaquera. E, mais uma vez, terminou com confusão. A Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar cerca de 3 mil jovens. Segundo a assessoria de imprensa do centro de compras, não houve registro de furtos.
Agenda dos 'rolezinhos'
18 de janeiro - Shopping JK Iguatemi
18 de janeiro - Grand Plaza Shopping
18 de janeiro - Shopping Metrô Tatuapé
18 de janeiro - Shopping Center Norte
24 de janeiro - Suzano Shopping
26 de janeiro - Shopping Bonsucesso
1º de fevereiro - Mauá Plaza Shopping
5 de fevereiro - Shopping Taboão
8 de fevereiro - Shopping Aricanduva
15 de fevereiro - Shopping Penha
Quatro mil confirmam 'rolezinho' no Shopping Leblon, no Rio
Cariocas marcam ato para domingo, 19, 'em apoio à galera de São Paulo'
13 de janeiro de 2014 | 14h 29
Agência Estado
Atualizada às 18h16
Reprodução/Facebook
Em página, participantes fazem uma enquete sobre "o que levar para lanche"
Um "rolezinho" foi marcado por meio do Facebook para o Shopping Leblon, um dos mais refinados do Rio, no próximo domingo, às 16h20. "Em apoio à galera de São Paulo, contra toda forma de opressão e discriminação aos pobres e negros, em especial contra a brutal e covarde ação diária da Polícia Militar no Brasil, seja nos shoppings, nas praias ou nas periferias", diz a convocação. Mais de quatro mil pessoas confirmaram presença pela rede social - o que não significa necessariamente que irão, mas que pretendem, ao menos, acompanhar a página "Rolezinho no Shopping Leblon".
Nela, participantes fazem uma enquete sobre "o que levar para lanche" (pão com mortadela é o mais votado) e discutem questões como que roupa vestir e que conduta adotar. Outro tópico levantado foi a necessidade de haver negros entre os participantes, para que o encontro seja um ato de afirmação racial.
À beira-mar, o Leblon é um dos bairros mais valorizados do Brasil e abriga muitos artistas da TV Globo. O shopping, com cinema multiplex, restaurantes e um conjunto eclético de lojas (algumas populares, mas a maioria, sofisticadas) é frequentado pela classe média e classe alta.
Em agosto de 2000, a organização Frente de Luta Popular, promoveu uma "invasão pacífica" do shopping Rio Sul, o que gerou desconforto nos frequentadores e lojistas, pegos de surpresa. Um grupo de 130 sem-teto, moradores de favelas, estudantes e punks foi ao shopping junto e protestou "contra o sistema capitalista, mostrando o contraste entre o consumo supérfluo e a fome", conforme declararam à época. Alguns comerciantes fecharam as portas e a PM foi chamada.
Mesmo com proibição judicial, ‘rolezinhos’ se multiplicam na rede
- De shoppings a parques de São Paulo, já há 13 ‘rolês’ marcados até fevereiro. Alckmin diz que vai investigar abusos policiais e Haddad pede diálogo com os jovens
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SÃO PAULO - Mesmo com proibição judicial e repressão da polícia, os chamados “rolezinhos” estão se proliferando por São Paulo. As reuniões de jovens, a maioria da periferia, se multiplicam pelas redes sociais. Além de shoppings, os jovens miram agora os parques. Os eventos são marcados para os finais de semana. Um dos rolezinhos marcados para um parque de São Paulo já confirmou presença de mais de 1.800 pessoas. Outro “rolê”, agendado para o aniversário da cidade, em 25 de janeiro, já contava, até as 18h30 desta segunda-feira, com 1.050 confirmações.
Na internet, o fato de os shoppings entrarem na Justiça acabou fomentando as discussões nas redes sociais. No Facebook, há pelo menos 13 rolês marcados até o início de fevereiro em shoppings e parques de São Paulo e da região metropolitana. Também foram agendados eventos que ironizam a situação, como os “rolês” da classe média às favelas.
Com medo dessa “invasão” de jovens, seis shoppings da capital obtiveram decisões judiciais para coibir as ações. Chamado de “rolezaum no shoppim”, o encontro marcado no JK, o shopping mais requintado de São Paulo, foi proibido pela Justiça. Segundo o juiz de direito Alberto Gibin Villela, que concedeu decisão liminar favorável ao controlador do shopping, o WTorrre Iguatemi Empreendimentos Imobiliários, o direito à livre manifestação, previsto na Constituição Federal, deve ser exercido “com limites”. “Manifestação em shopping center, espaço privado e destinado à comercialização de produtos e serviços, impede o exercício da profissão dos que ali estão sediados”, afirmou o juiz, que completou: “o Estado não pode garantir o direito de manifestações e olvidar-se do direito de propriedade, do livre exercício da profissão e da segurança pública”.
Multa estipulada a infrator é de R$ 10 mil
O juiz estipulou ainda uma multa de R$ 10 mil para cada um dos jovens que tentasse se manifestar com o rolê. No caso do JK, as portas foram fechadas e mesmo funcionários acabaram barrados pela polícia ao tentar entrar no estabelecimento para trabalhar. Já no shopping Itaquera, zona leste de São Paulo, a situação foi mais grave. Houve confronto com a polícia, que disparou tiros de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar um público de cerca de 3 mil pessoas, segundo a administração do shopping. O governador Geraldo Alckmin afirmou nesta segunda-feira que vai apurar os possíveis abusos na atuação policial.
Além do Itaquera e do JK, os shoppings Campo Limpo, Center Valle (em São José dos Campos), Iguatemi e Dom Pedro (Campinas) obtiveram liminar, e outros estabelecimentos também estão recorrendo à Justiça. O prefeito Fernando Haddad disse, em entrevista coletiva, que tanto os rolezinhos como as liminares o surpreenderam.
—Estamos em contato permanente com a juventude, sobretudo a Secretaria de Cultura e da Igualdade Racial. Essa questão do rolezinho surpreendeu a iniciativa assim como a liminar concedida. Eu pedi para as duas secretarias que dialogam com esses setores compreender melhor o propósito da coisa para que a gente possa avançar — disse Haddad, que completou: — Não é o caso de falar para a prefeitura: ‘cuida dessas pessoas que o problema é seu’. É a cidade que tem que ser discutida. Temos que abrir espaços públicos para que as pessoas possam usufruir da cidade.
Para o cientista político Claudio Couto, da FGV, as medidas judiciais vão fazer aumentar essas mobilizações pelo país. Para ele, os jovens agora podem querer marcar presença por uma “questão de honra”:
— O rolezinho é uma continuação da manifestações de junho. É mais uma forma de “manifestação pela presença”. Os jovens que participam querem se fazer presentes nesses locais, querem dizer que têm o direito de frequentar. E o que causa o incômodo é sua mera presença. A reação das autoridades e dos estabelecimentos é desmesurada e só vai fazer aumentar esse movimento porque, agora, começa a se tornar uma questão de honra para esses jovens— disse o cientista político.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo informa que, desde dezembro do ano passado, ocorreram cinco tumultos de jovens em shoppings centers em São Paulo e Guarulhos, que foram registrados em sete boletins de ocorrência. Até o momento, foram detidas 47 pessoas durante essas ocorrências, que foram liberadas após prestarem depoimentos sobre as suas participações. Além disso, uma pessoa foi presa e dois menores foram apreendidos. Foram abertos inquéritos policiais no 65° DP (Artur Alvim) de São Paulo e no 2° DP de Guarulhos para investigar os dois tumultos que aconteceram no Shopping Itaquera nos dias 7 de dezembro de 2013 e 11 de janeiro deste ano e em um shopping center de Guarulhos no dia 14 de dezembro do ano passado.
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