25 de fevereiro de 2011

Entre jovens, 39,7% das mortes são assassinatos : MAPA DA VIOLÊNCIA 2011

O Globo | O País | BR



Brasil está em sexto lugar no ranking de homicídios; ministro da Justiça fala em retomar campanha do desarmamento
Demétrio Weber
BRASÍLIA. Homicídios são a principal causa de morte dos jovens brasileiros e estão se multiplicando. Levantamento elaborado pelo Instituto Sangari e divulgado ontem pelo Ministério da Justiça mostra que 39,7% dos óbitos, na população de 15 a 24 anos, foram provocados por assassinatos. Nas demais faixas etárias, esse percentual corresponde a 1,8%. Os dados são de 2008. Naquele ano, os jovens eram 18,3% da população brasileira. Mas representavam 36,6% das vítimas de homicídios.
Uma análise do que ocorreu nas últimas três décadas leva, segundo os pesquisadores, a uma conclusão estarrecedora: em 1980, a taxa de homicídios de jovens era de 30 por cada grupo de cem mil habitantes e subiu para 52,9 por cem mil, em 2008. No levantamento anterior, relativo a 2007, a taxa tinha sido de 50,1 por cem mil.
Em números absolutos, foram 18.321 rapazes e moças mortos de forma violenta e intencional. Em Alagoas, caso mais extremo, 60,9% dos óbitos de jovens foram causados por homicídios. No Rio, foram 42,2%.
O retrato da guerra brasileira está no Mapa da Violência 2011, de autoria do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz. Em sua 12ª edição, o levantamento reúne dados de 1998 a 2008. A fonte é o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
- Os dados mais preocupante são os da juventude, inaceitáveis para um país da riqueza e com os avanços do Brasil - disse o vice-presidente do Instituto Sangari, Jorge Werthein.
Na década de 1998 a 2008, o Brasil registrou 521.822 vítimas, em todas as faixas etárias. Em 2008, foram 50.113 - 137 por dia -, uma elevação de 5% em relação ao ano anterior. Em todo o período analisado, o único ano com mais homicídios que 2008 foi 2003.
A taxa geral brasileira de homicídios - fórmula que permite comparações dentro e fora do país, independentemente do número de habitantes - ficou em 26,4 mortes para cada grupo de cem mil pessoas de todas as idades. De acordo com Julio Jacobo, a Organização Mundial da Saúde considera taxas acima de 10 como epidêmicas. Entre os jovens, a taxa de assassinatos alcançava 52,9 por cem mil.
Já o índice entre a população não jovem sofreu uma leve queda no período: de 21,2 para 20,5. "Os avanços da violência homicida no Brasil das últimas décadas tiveram como motor exclusivo e excludente a morte de jovens", diz o relatório.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que pretende retomar a campanha do desarmamento. Ele fez referência ao fato de o número de assassinatos ter caído em 2004 e 2005, na esteira da aprovação do Estatuto do Desarmamento e da campanha. Cardozo não detalhou a proposta, mas afirmou que quer fazer tudo em parceria com governadores e que estuda a ideia de dar dinheiro à população que se desfizer de armamentos:
- Se alguém tinha alguma dúvida da eficácia dessa política, os números demonstram claramente isso. População armada é população violenta.
As taxas de assassinato por idade revelam que a situação mais grave foi registrada entre a população de 20 anos, com 66,1 homicídios para cada grupo de cem mil pessoas. A partir dos 40 anos, essa taxa cai para 26, chegando a 7,8 entre quem tem mais de 70 anos.
O levantamento compara as taxas de homicídio de cem países, com base nos dados mais recentes disponíveis entre 2004 e 2008. O Brasil aparece em sexto lugar, tanto no ranking da população total quanto no de jovens. Nas duas tabelas, a nação em pior situação é El Salvador, com taxas de 57,3 (população total) e 105,6 (jovens). Entre a população total, a Colômbia ocupa a segunda posição, seguida por Venezuela, Guatemala e Ilhas Virgens. Entre os jovens, o segundo lugar é das Ilhas Virgens. Depois vêm Venezuela, Colômbia e Guatemala. Dos cem países, 65 têm taxas de homicídio na população total inferiores a 5. Segundo Julio Jacobo, taxas de até cinco homicídios para cada cem mil habitantes são características de países onde a população se sente segura.
Negros são mais assassinados que brancos
O Mapa da Violência mostra que os negros no Brasil são mais assassinados que os brancos. Em 2008, o total de negros mortos foi de 32.349 ante 14.650 de brancos. A taxa de homicídio entre os negros ficou em 33,6 para cada cem mil habitantes da mesma cor. Ela é mais do que o dobro da taxa verificada entre a população branca: 15,9. De 2002 até 2008, o número de vítimas brancas caiu de 18.852 para 14.650, enquanto o de negras subiu de 26.915 para 32.349.
O Mapa diz que a disparidade é maior no Nordeste, em especial na Paraíba, onde o grau de vitimização dos negros é 12 vezes maior. Em Alagoas, o índice é 11 vezes mais alto.
E 39.211 pessoas morreram no Brasil, em 2008, por causa de acidentes de transporte, o que inclui desde colisões no trânsito até fatalidades em embarcações, aviões e trens. De 1998 a 2008, o aumento do número de vítimas alcançou 26,5%. Barbalha (CE) foi a cidade com maior taxa de vítimas fatais: 207,6 para cada cem mil pessoas. Vitória é a capital com índice mais alto: 51,2. O Rio, com 14,7, ocupava a 23ª posição. Os acidentes mataram 8.894 jovens de 15 a 24 anos.
Enquanto os acidentes respondem por 19,3% dos óbitos da juventude, os suicídios tiraram a vida de 3,9% dos jovens. De 1998 para 2008, o número de suicídios entre a população total subiu de 6.985 para 9.328, por ano - um aumento de 33,5%. Entre os jovens, o incremento foi de 22,6%, de 1.454 para 1.783. O Rio Grande do Sul é o estado com maior taxa de suicídios do país: 10,7. Entre os jovens, é Roraima, com 16,9. Os municípios de Amambaí e Paranhos, em Mato Grosso do Sul, tinham as maiores taxas: 49,3 e 35 respectivamente.
Veja também (agrupamento):

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