Enquanto as vendas de motos aumentam e a indústria vê seus lucros se expandirem depressa, estudiosos de saúde, economia e trânsito debruçam-se noutros problemas, que extrapolam a Matemática: o elevado número de acidentes sobre duas rodas e as crescentes dificuldades no tráfego entre as cidades da Baixada Santista. Parte dos problemas decorre da formação inadequada dos motociclistas para sobreviver literalmente às armadilhas no percurso. Não à toa, hospitais recebem acidentados com maior frequência. Apenas na Seção de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Santos, a média é de uma internação a cada dois dias. Chegam pacientes de toda a região.
Em quase uma década, de dezembro de 2001 a março deste ano, 325.882 veículos ganharam as ruas da Baixada um salto de 80,49%, conforme dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). De modo proporcional, porém, a quantidade de motos subiu quase 3,5 vezes, de 57.117 para 181.353 unidades (246,58%).
Como resultado, quase um terço dos veículos (31,20%) em circulação nos nove municípios são motocicletas e motonetas, ante 18,50% em 2001. Uma proporção bem superior às médias nacional (25,46%) e estadual(de todos os automotores, 18,82% são motos).
Em Guarujá, o número de carros e motos é praticamente o mesmo (44.759 a 40.206). Dez anos antes, havia, ali, 2,3 automóveis para cada moto. Outro exemplo está em Praia Grande. Numa década, o volume de motocicletas passou de 4.906 para 27.050, ou 5,5 vezes mais. Só nos últimos 12 meses, aumentou 13,06%. O número de motociclistas mortos subiu de quatro, no primeiro trimestre de 2010, para sete, de janeiro a março deste ano.
Ruidoso silêncio
O Mapa da Violência 2011, elaborado pelo Instituto Sangari, mostra uma realidade ainda mais dura. Em 1998, morreram 1.047 motociclistas no País. Em 2008, 8.939 um salto de 753,77% em dez
Diretor de Pesquisa da instituição, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz pensa que tal situação se deve, em parte, a uma "espécie de conspiração do silêncio com a motocicleta".
"Por passageiro transportado, uma moto com motor de dois tempos é muito mais poluente; um acidente de moto é 14 vezes mais letal do que um de carro; as vendas de motos batem recordes. E ninguém fala nada", comenta o diretor.
Instrutor de trânsito há dez anos, Marcelo Gama, professor na unidade de São Vicente do Sest/Senat (siglas para Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), julga que "as motoescolas não estão preparadas para formar: ensinam algumas manobras e só utilizam até a segunda marcha".
Tal situação alia-se à "propaganda insidiosa" da indústria na mídia, que transmitiria sensação de "liberdade" e induziria motociclistas a "passar por cima das regras. Há impacto socioeconômico, traduzido pelo aumento do número de acidentes de trânsito", diz Gama.
Entre os jovens, a moto pode ser o primeiro veículo. Conforme o Mapa da Violência, os acidentes fatais de motocicleta estão mais concentrados na faixa dos 19 aos 22 anos.
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