17 de outubro de 2011

Ciência em baixa



Oferecer mais museus e atividades lúdicas não adianta; é preciso mais realidade nos currículos

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Iniciativas lúdicas para atrair estudantes para as ciências funcionam. Mas, de acordo com especialistas, só se houver continuidade na escola, com um ensino que relacione fórmulas a problemas do cotidiano dos jovens.
"Precisamos de mais espaço para o aluno pesquisar o que lhe interessa e que tenha utilidade. Não adianta saber as leis de Newton e não saber o que é mudança climática", diz Paulo Blikstein, professor da Universidade Stanford (EUA).
Ele defende uma reforma no currículo do ensino de ciências, com a cobertura de menos tópicos com mais profundidade. O Brasil ocupa hoje um dos últimos lugares (53ª posição entre 65 países) em educação de ciências. A avaliação é da OCDE (Organização de Nações Desenvolvidas).
Os principais problemas por aqui são professores pouco qualificados e laboratórios (quando há) nada atrativos.
Além de deixar o país menos competitivo internacionalmente, com menos jovens motivados a seguir carreiras científicas e engenharias, a educação de má qualidade nessa área também é um instrumento de exclusão social.
"Não há como viver num mundo estruturado pela cultura científica sem estar informado sobre ela", diz Carlos Vogt, coordenador de um grupo de estudos da Unicamp que pesquisa a relação entre ciência e sociedade.
Jorge Werthein, doutor em educação pela Universidade Stanford, concorda. "Só quem entende um pouco de ciência consegue interpretar rótulos de alimentos e bulas de remédios", exemplifica.
Para ele, a relação entre educação, ciência e inclusão social é "evidente".
A "exclusão" mencionada por Werthein e Vogt pode também ser traduzida na maneira como a sociedade fica de fora de debates científicos importantes.
É isso que tem pregado Miguel Quintanilla, professor de lógica e filosofia da ciência da Universidade de Salamanca, na Espanha. "Se meu país desenvolve transgênicos com dinheiro público, por exemplo, eu tenho de entender minimamente o que é transgenia e tenho a obrigação de opinar", analisa o especialista.

ESTÍMULOS
O problema é que o Brasil vai mal na escola e também fora dela: de acordo um levantamento do MCTI (Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação), apenas 8% da população frequenta museus de ciência.
"A gente tem de estimular os professores e os estudantes", defende o físico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Ildeu Moreira.
Ele é coordenador da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, do MCTI. O evento mobiliza instituições de todo o país a criarem atividades para para chamar atenção dos jovens para o tema.
A edição deste ano começa hoje e vai até o dia 23. São mais de 650 instituições inscritas na programação, oferecendo mais de 9.000 atividades.
Em Rio Branco, a Biblioteca Pública Estadual do Acre vai exibir gratuitamente documentários sobre ciência. No Rio de Janeiro, a Fundação Planetário fará sessões sobre "as maravilhas do Universo". E por aí vai. Para Moreira, esses "eventos mobilizadores" podem estimular o sistema educacional. Mas melhorar o ensino de ciências nas escolas continua sendo fundamental.
"Não podemos deixar que a criança, quando volta para a escola, encontre o mesmo ensino desestimulante e de má qualidade de sempre", conclui Blikstein.

Nenhum comentário:

Postar um comentário