Com favelização crescente, a enriquecida e problemática Macaé é alvo da primeira ocupação no modelo das UPPs fora da capital
por Caio Barretto Briso | 25 de Janeiro de 2012, Veja Rio
A cidade dos condomínios de luxo sofre com a criminalidade
O barulho de obra é trilha sonora permanente em Macaé. De prédios comerciais a condomínios de luxo à beira-mar, impressiona a quantidade de empreendimentos em construção no município do norte fluminense distante 200 quilômetros da capital. Chamam atenção também as cifras envolvidas. Algumas unidades chegam a custar 3 milhões de reais, preço compatível com o de bairros valorizados do Rio. Quem tem cacife para tanto? Os altos funcionários da indústria petroleira, atividade responsável por uma guinada na vida dessa cidade. Desde que, na década de 70, a Petrobras começou a extrair o ouro negro em seu litoral, Macaé ganhou um enorme empuxo econômico. É o segundo município do país que mais arrecada com royalties, uma compensação pelos riscos da exploração. No ano passado, seus cofres receberam 480 milhões de reais. Um privilégio, sem dúvida, mas que apresenta também uma contrapartida preocupante. Por negligência do poder público, faltou planejamento urbano eficaz para dar vazão à grande migração de mão de obra. O município assistiu impassível ao estouro populacional e suas consequentes mazelas, entre as quais a favelização e a violência. Assim, com exceção da Região Metropolitana, Macaé se tornou o ponto mais problemático para o setor de segurança pública estadual.
Há duas semanas, o município protagonizou cenas típicas da metrópole ao virar alvo de uma grande operação policial para reprimir o tráfico de drogas nas favelas de Nova Holanda (homônima da carioca), Nova Esperança, Malvinas e Botafogo, situadas a apenas 1 quilômetro do epicentro comercial da cidade. Foi o desfecho de uma intervenção iniciada no ano passado, que contou com a participação de agentes civis, militares e federais. A ação segue o modelo das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), com a ocupação permanente da região. “A única diferença para as UPPs é que os policiais comunitários não serão recém-formados”, destaca o tenente-coronel reformado Edmilson Jório, coordenador do Gabinete de Gestão Integrada daquele município.
Nas ruas para combater o problema, operação policial ocupou as favelas próximas ao centro
em Macaé, ao contrário, ele cresceu. O panorama negativo atinge principalmente as favelas, onde vive mais de um quinto da população local, calculada pelo IBGE em 210 000 habitantes, mas estimada pela prefeitura em cerca de 370 000. Quando a Petrobras se instalou ali, o lugar não passava de um sossegado balneário com 34 000 pessoas, na maioria de famílias de pescadores.
A descoberta de óleo na camada pré-sal, que pode levar as reservas brasileiras a dar um salto de 13 milhões para 80 milhões de barris, causa expectativa sobre como reagirá Macaé a mais essa previsível enxurrada de dinheiro - e gente. Caso não sejam mudadas drasticamente as regras de repartição dos royalties, estima-se que a cidade receberá nos próximos cinco anos mais 70 000 moradores, a esmagadora maioria sem a qualificação necessária para se empregar no ramo petrolífero. A possibilidade de o ciclo perverso se intensificar virou um pesadelo para os governantes. “Meus antecessores não entenderam o processo”, afirma a atual prefeita, Marilena Garcia, do PT. Para evitar novos problemas, foi criado o projeto Planejando Macaé, que visa ao reordenamento urbano por meio de grandes obras. Com o objetivo de repensar a cidade, foi contratado o arquiteto curitibano Jaime Lerner. Único vereador da oposição, Danilo Funke mostra ceticismo com relação ao futuro. “A pujança econômica não foi acompanhada de desenvolvimento social”, diz ele. “Essa história de eldorado é pura ilusão. Reverter o quadro será difícil.” Não é tão complicado assim. Basta aplicar corretamente a fortuna proporcionada pelo petróleo. Dinheiro não pode ser problema. A falta dele, sim.
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