11 de janeiro de 2012

Onde comprar estantes de livros?

por Cláudio de Moura Castro (Veja, 10/01/2012)


Em 1970, voltando do meu doutoramento, comecei a montar casa no Rio de Janeiro. Logo notei que as lojas não ofereciam estantes de livros. Havia estames de tudo, menos de livros. Diante do orçamento apertado, descobri uma solução. Por serem feitas em série, escadas de subir em postes de luz são muito baratas. Com elas e mais tábuas - para colocar os livros - resolvi o problema. Quando fui morar em Brasília, em 1980, foi a mesma coisa, pois nas lojas só havia estantes profundas, para jarras ou processos administrativos. Para livros, nem pensar. Comprei sólidas tábuas de mogno e fiz minha linda estante. Recentemente, com mudanças de escritório, precisei novamente de estantes. Debalde, peregrinei por Tok & Stok, Ema, Walmart e Leroy Merlin. Eram as mesmas de antes, para bibelôs e jarros. Para livros, ou são horrendas e mal-acabadas (para bibliotecas públicas e feitas de chapa de metal) ou são os precários trilhos verticais, com mãos francesas de encaixe duvidoso. Acabei comprando gôndolas de quitanda, no mesmo gênero, mas um pouquinho mais robustas. Por desfastio, busquei também no site do Magazine Luiza, encontrando centenas de estantes mas nem uma só para livros (a maioria era para TV).
Como os donos dessas empresas não são tontos, é inevitável concluir que, se não oferecem boas estantes, é porque não há compradores. Ou seja, o brasileiro frequentador dessas lojas não possui o volume de livros que provocaria a demanda por elas. Os poucos que precisam de estantes mais avantajadas se entendem com seu marceneiro e pagam as comas, também mais avantajadas. Triste constatação, pois não? E como será no mundo mais rico? Apenas para ter gosto. Digitando a palavra bookcase, aparecem 725 itens. Há um número para cada cor, aparecendo também acessórios e modelos menos apropriados para livros. Por seguro, digamos que•existem mais de 300 modelos de estantes para livros. A comparação é escandalosa.
Falando de estantes de livros, em uma área rural da Islândia, uma casa de camponeses modestíssimos foi transformada em um museu sobre os hábitos e os estilos de vida locais. Mostra a casa como estaria por volta de 1920, austera e espartana, como tudo no país. Chamou atenção a biblioteca do dono. A estante, mais alta do que eu e com um bom metro e meio de largura, estava repleta de livros, com o desgaste que corresponde ao uso frequente. Quem já viu estante de livros nas aristocráticas fazendas brasileiras? Na realidade, os islandeses estão entre os leitores mais furiosos, comprando oito livros por pessoa/ano e os domicílios abrigando uma média de 338 livros. Na Austrália e na Nova Zelândia, acima da metade dos lares tem mais de 100 livros.
Como serão os hábitos de leitura dos brasileiros? Os resultados não são nada lisonjeiros. A média brasileira é de 1,8 livro lido por habitante/ ano. Isso se compara com 2,4 para nossos vizinhos colombianos, cinco para os americanos e sete para os franceses.
Diriam os cínicos, e daí? Um passatempo como outro qualquer. Infelizmente, não é assim. Uma pesquisa em 27 países mostrou que a biblioteca familiar se correlaciona mais com bons resultados na educação do que a própria escolaridade dos pais.
Uma biblioteca de 500 livros se associa a acréscimos de escolaridade que vão de três a sete anos. Segundo os autores, "uma casa onde os livros são valorizados fornece às crianças ferramentas que são diretamente úteis no aprendizado escolar...". E tem mais, leitores mais assíduos visitam mais museus, fotografam mais e, surpresa, praticam mais esportes.
A revista The Economist inventou uma brincadeira que era avaliar o realismo das taxas de câmbio pela diferença de preço dos hambúrgueres no McDonald"s, já que em todos os países ele é o mesmo sanduíche detestável. Surpresa! O "índice do hamburguer" revelou-se uma medida respeitável e tem vida longa. Quem sabe, além do Pisa, não poderíamos passar a medir educação e hábitos de  leitura por uma simples pesquisa nos sites das lojas de móveis? Bastam alguns minutos. Isso é fácil, difícil será mudar essa triste situação.

3 comentários:

  1. Olá Jorge Werthein! Estou na mesma situação há alguns meses. Tenho um considerado número de livros em casa, e procurei estantes grandes em todos os lugares; sites, lojas grandes, lojas de móveis usados, lojas de móveis antigos, de móveis finos...tudo isso em várias cidades e não encontrei absolutamente nada. O mais próximo que encontrei foi uma cristaleira. Então estou apelando para a última opção : um marceneiro !
    Fiquei muito decepcionada ao constatar que não se fabrica mais as estantes. Só me provou que o país está pobre de leitores dos bons e velhos livros de papel! Foi realmnte frustrante perceber que um móvel tão comum até a primeira metade do século passado simplesmente não existir mais...

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  2. Olá! Eu não sei se vocês passam por esse dilema, mas toda vez que começo a pesquisar preços de estantes fico pensando em quantos livros eu poderia comprar com a mesma quantia... Mas é claro que é necessário armazená-los de forma apropriada! Saudações, Vagner.

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  3. Estou passando pelo mesmo problema e já pesquisei em todas as lojas com presenca na Web, desde a Tok & Stok até uma fábrica interessante no Estado do Paraná que fabrica estantes de madeira e as vende pela Web (Mercado Livre). E a conclusão a que cheguei é uma só: esse Mercado, no Brasil, é ridículo, com ofertas que são ou inadequadas (para poucos livros, mais para bugigangas de decoração) ou muito caras. As duas melhores ofertas que encontrei na Web foram uma da Tok & Stok (Estante modelo "Heap"), que custa os olhos da cara, e uma da fábrica no Paraná, que também é muito cara (a da Tok & Stok custa algo em torno de R$ 5.340,00 para uma capacidade de cerca de 400 livros - medindo aproximadamente 2,50 m x 2,25 m).
    Este é o Brasil que não gosta de livros que o Cláudio de Moura Castro constatou cabalmente por esse objetivo indicador.

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