8 de janeiro de 2012

Por que a cracolândia vai sumir - Gilberto Dimenstein


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A tendência natural da cracolândia é desaparecer. Menos por uma vontade ou competência (escassa, diga-se) dos governantes e mais pelas exigências do futuro da cidade de São Paulo.

Não significa que o tráfico vá desaparecer. Muito pelo contrário. O que a cidade não vai tolerar --assim como o Rio não está tolerando em seus morros-- são espaços sem lei, tomados por marginais.

O Brasil já é uma maiores economias do mundo, e São Paulo, seu polo econômico mais importante --e será cada vez mais importante. Isso implica toda uma formação de capital humano e exigência de qualidade de vida. É uma cidade que, para se manter nessa posição, terá de ser mais educada e cosmopolita.
Não se vai tolerar aquela mancha de degradação a céu aberto, e os governantes serão cada vez mais cobrados. Assim, podem apostar, como não vai tolerar esse nível de educação pública. A elite começou a falar em educação pública quando viu que seus negócios estavam ameaçados por falta de qualidade da mão-de-obra.

Os serviços da cidade estão cada vez mais sofisticados para atender essa demanda. Lugares mais educados são também mais exigentes e organizados.

Outras cidades tiveram suas cracolândias, que pareciam indestrutíveis. Nova York tinha South Bronx --que era pior do que nossa cracolândia. Mudaram bairros em Bogotá, Medellín, Barcelona, Chicago, entre outros. Há notáveis exemplos pelo mundo de como áreas degradadas passaram a ser centros de entretenimento e de economia criativa.

Associam-se ao esforço de governos projetos imobiliários e arquitetos com conhecimento de revitalização de espaços públicos, apoiados pela opinião pública.

É uma guerra entre o capital humano e o caos urbano. E, na maioria das vezes, por uma lógica econômica, vence o capital humano.

Para quem acha que sou um iludido ou otimista, veja quantas manchetes tivemos nos últimos 12 meses sobre rebeliões na Febem e compare com a década de 1990. Ou veja a queda do número de assassinatos.

A beleza das cidades mais avançadas é ser uma fonte de inventividade e soluções. São Paulo é cada vez um dos principais polos de capital humano do mundo, reunindo boa parte da inteligência nacional.
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No caso de São Paulo, há uma questão eleitoral. Alckmin e Kassab ataram parte de seu prestígio ao que ocorrer na cracolândia. Para completar, ainda tem o efeito da Copa do Mundo.

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