1 de abril de 2012

A onda de interiorização da violência


01/04/2012 | Folha de Pernambuco | Brasil | PE






SIMÕES FILHO - No topo do ranking do Mapa da Violência 2012, Simões Filho é a síntese da principal tendência revelada pelo levantamento: a interiorização dos homicídios no Brasil. As altas taxas deste tipo de crime estão se transferindo das grandes metrópoles para aglomerações de pequeno e médio porte. A pesquisa indica que, em sete anos, as taxas das cidades menores vão se equiparar aos índices das capitais. A PM admite, porém, que há bairros com forte influência do tráfico e de difícil acesso para as autoridades.
"Simões Filho é um destes municípios em que a implantação de indústrias atraiu muita população, mas o aparelho do estado não se adaptou à nova realidade", diz o diretor do Instituto SangariJulio Jacobo Waiselfisz. Simões Filho está cercada por polos industriais. "A cidade não teve a estrutura para absorver o grande número de pessoas em tão pouco tempo", diz o major Jorge Albuquerque. Nos últimos 20 anos, a cidade teve acréscimo de mais de 40 mil habitantes, diz o IBGE.
Em 2011, a prefeitura rebateu o ranking do Mapa da Violência alegando que muitos dos assassinatos ocorridos nas cidades vizinhas acabam "desovados" nas estradas de Simões Filho. Procurado durante três semanas, o prefeito não quis dar entrevista.

Simões Filho, a capital brasileira do homicídio

Cidade baiana tem índice cinco vezes maior que média nacional
SIMÕES FILHO (Folhapress) - "Aqui é a cidade do corte! Aqui a gente trata na bala!" A fala é de um morador de Simões Filho, município da região metropolitana de Salvador (BA) com 112 mil habitantes e que tem o título de mais violento do País. "Isso daqui é tudo major morto", continua o sujeito, sem se identificar, apontando para as gavetas do superlotado cemitério São Miguel.
A cidade é apontada como a mais perigosa do Brasil no Mapa da Violência 2012, publicado em dezembro passado pelo Instituto Sangari. Na média entre 2008 e 2010, Simões Filho teve 146 homicídios por 100 mil habitantes. O estudo considera epidêmicas taxas a partir de dez mortes por 100 mil pessoas. A divulgação do ranking não chegou a surpreender quem vive lá. No Mapa da Violência 2011, a cidade já ocupava a vice-liderança.
A "TV Folha" visitou o local, a 23 km da capital baiana, no mês passado. A reportagem flagrou dois corpos jogados na BA-528 (estrada do Derba). Ambos com sinais de espancamento, marcas de tiro e punhos algemados. "Mais de 60% dos homicídios aqui são causados pela ação do tráfico", diz o delegado Antonio Fernando Soares do Carmo, da 22ª delegacia. Ele admite, no entanto, que os corpos encontrados com algemas em fevereiro tinham indícios de que foram vítimas da ação de milicianos.
As vítimas de Simões Filhos são encaminhadas para o Instituto Médico Legal (IML) de Salvador, já que a cidade não possui IML próprio. "Todo dia tem óbito aqui que vem de Simões Filho", relata funcionária responsável pelo atendimento às famílias que chegam no IML da capital, Ana Paula Teixeira. Para a florista Josineide Gomes, 39, "o que mais tem na cidade é enterro". Seu sobrinho foi assassinado aos 16 anos. "Acho que ele se envolveu (com o tráfico). Mataram e ainda cortaram os testículos", desabafa.
Há também quem veja oportunidades de negócios pela cidade liderar os índices de violência. "Simões Filho, para mim, foi um atrativo porque percebemos que existe uma fragilidade na área da segurança lá. Nossa companhia cresce em torno 40% ao ano", diz, sócio da empresa de segurança privada Escolta VIP, Marcos Carvalho Santana. Logo atrás da violência, a falta de opções de lazer na cidade é uma das principais reclamações de quem vive em Simões Filho. "As opções aqui são bar ou igreja", resume o professor de matemática Rodrigo Magalhães, 24. "Fora isso, temos muita corrupção", diz Magalhães.
Desde 1992, a prefeitura é palco da alternância de poder entre dois políticos. Este já é o terceiro mandato de José Eduardo Mendonça de Alencar (PSD). Alencar é alvo de quatro ações do Ministério Público Federal por improbidade administrativa. Seu antecessor, Edson Almeida de Jesus (PT), foi condenado por improbidade administrativa em 2008 e recorre da decisão.

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