13 de novembro de 2012

HÉLIO SCHWARTSMAN Índios e a globalização



SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha mostra que os índios brasileiros, ao adquirir bens como televisores (63% os possuem), geladeiras (51%) e celulares (36%), estão de alguma forma integrados à vida urbana nacional. Para certa corrente de pensamento, isso os tornaria menos índios, de modo que já não haveria razão para conceder-lhes tanta terra nem proteções jurídicas especiais.
Não compro o raciocínio. Minha visão sobre os índios é, na verdade, mais trágica. Seu modo de vida está fadado a desaparecer. Desde que o mundo é mundo, quando duas culturas com graus muito díspares de desenvolvimento tecnológico se encontram, a menos avançada leva a pior.
No caso dos índios, a disputa não se deu só por meio de armas e outros engenhos, mas também no nível imunológico. Vírus e bactérias trazidos pelos "conquistadores" fizeram mais vítimas entre os nativos do que a pólvora. Mesmo hoje, quando restam poucos John Waynes a advogar que índio bom é índio morto, a cultura dessas populações sofre uma ameaça ainda mais séria, que é o desejo de seus representantes de gozar as facilidades da vida moderna. Não dá para censurá-los por essa escolha.
O problema é que também não podemos impor essa via a todos sem consultá-los. Ainda que o desaparecimento do modo de vida tradicional dos índios seja uma questão de tempo, isso não é motivo para atropelar os direitos e proteções que a Constituição concedeu a eles enquanto indivíduos, e não só como categoria.
A verdade é que a globalização é um processo mais antigo do que se imagina. Estima-se que em 1500 a.C. havia 600 mil unidades políticas autônomas no planeta, hoje dividido em cerca de 200 países. E, se é certo que essa tendência de centralização provocou inúmeras baixas, também é fato que produziu benefícios, como a redução do número de guerras e a progressiva, ainda que desigual, melhora de indicadores de expectativa de vida, alfabetização e até riqueza.

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