16 de abril de 2011

Tragedia de Realengo: Bullying é assunto central na série de gravações de atirador



Bullying é assunto central na série de gravações de atirador

Ele divide mundo entre "fiéis", vítimas da prática, e "infiéis", que compactuam com maus-tratos

Polícia considera o caso encerrado: Wellington agiu sozinho e não tinha nenhuma ligação com grupos extremistas


Associated Press/SESEG/HO
Em foto, Wellington Oliveira mostra carta que levava consigo no dia do ataque à escola Tasso da Silveira, no Rio


RODRIGO RÖTZSCH
DIANA BRITO

DO RIO

Nova leva de vídeos de Wellington Menezes de Oliveira divulgada pela polícia revela que o bullying é assunto central das tentativas do atirador de justificar o ataque na Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio.
Ex-aluno da escola municipal onde assassinou 12 crianças e depois se matou nove dias atrás, Wellington faz várias referências nas gravações a "fiéis" e "infiéis".
Não se trata, porém, de uma divisão religiosa.
"Fiéis" ou "irmãos" são os que, como afirma Wellington, sofrem bullying. "Infiéis" e "fornicadores" são os que praticam o bullying ou compactuam com a prática.
Bullying é um termo incorporado ao vocabulário nacional que se configura quando um grupo pratica violência física ou moral de forma sistemática contra alguém que não consegue se defender.
Até agora foram revelados sete vídeos. Seis deles recuperados de discos rígidos de computador apreendidos na casa do atirador. O sétimo, exibido pelo "Jornal Nacional" na terça, tem origem desconhecida, diz a polícia.
Nas imagens, Wellington diz que a sua ação servirá como exemplo para que outros não sofram o mesmo tratamento que ele diz ter sofrido.
"Que o ocorrido sirva de lição, principalmente às autoridades escolares, para que descruzem os braços diante de situações em que alunos são agredidos, humilhados", afirma ele num dos vídeos.
O atirador critica quem debochava dele, mas não é específico quanto aos maus-tratos que afirma ter sofrido -antigos colegas de escola de Wellington dizem que ele, de fato, era alvo de chacotas.
O atirador incentiva que outros sigam seus passos.
"Muitos de vocês poderão ser fortes se transformando em combatentes na batalha contra os perversos, se preparando para matar e morrer", diz.
Psiquiatras como Gustavo Teixeira, entrevistado na semana passada pela Folha, dizem que só o bullying não explica a ação do atirador, embora possa ter desencadeado um surto psicótico que desembocou nos ataques.
A Secretaria Municipal de Educação do Rio afirma que os alunos da rede que praticam o bullying podem sofrer punições, como advertência e encaminhamento para os conselhos tutelares.

FOTOS
Além dos vídeos, a polícia também encontrou fotos que lembram as deixadas por outros atiradores, como o assassino do massacre de Virginia Tech, Cho Seung-hui. Na imagem, Wellington segura as armas e simula disparos.
Cho é citado em um dos vídeos como "ícone na luta contra os infiéis", ao lado de Edmar Aparecido Freitas, que atirou contra alunos de uma escola em Taiúva, cidade do interior paulista, e de Casey Heynes, australiano que ficou famoso por um vídeo em que reage ao bullying.
A polícia considera o caso encerrado: Wellington agiu sozinho. Ninguém da família reclamou seu corpo. Ele ficará no IML até a próxima sexta e depois será enterrado.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse ontem que as famílias das 12 vítimas do massacre receberão indenizações do município. Ele afirmou que o valor dos pagamentos ainda não está definido.

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