18 de outubro de 2011

Dívida estudantil cresce e preocupa EUA


18 de outubro de 2011
Educação e Ciências | Valor Econômico | Internacional | BR

AP 

Estudantes inadimplentes têm apoio do movimento Ocupem Wall Street

Crise Inadimplência quase dobrou em oito anos e pode ter impacto similar ao do mercado imobiliário subprime
Shannon Bond e Matt Kennard
Os estudantes universitários dos EUA enfrentam o revés duplo da disparada de suas dívidas e da elevada taxa de desemprego, o que vem aumentando as preocupações de que uma potencial crise de inadimplência possa se transferir para a economia como um todo.
O endividamento dos estudantes aumentou quase sete vezes, de US$ 80 bilhões em 1999 para US$ 550 bilhões no fim de junho deste ano, segundo o Federal Reserve Bank de Nova York. Outras estimativas do Departamento de Educação colocam as dívidas pendentes em até US$ 805 bilhões.
Mas a taxa de desemprego para os jovens de 20 a 24 anos está em quase 15% - maior que a taxa geral de 9,1% -, o que vem comprometendo a capacidade dos diplomados de pagar suas dívidas crescentes. A inadimplência nos empréstimos estudantis aumentou de 6,5% em 2003 para 11,2% em junho, uma taxa quase tão alta quanto a dos cartões de crédito (12,2%).
"As perspectivas de longo prazo para os empréstimos estudantis e para os tomadores desses empréstimos continuam preocupantes", disse a empresa de avaliação de risco Moody's em um relatório recente. "Ao contrário de outros segmentos da economia de crédito ao consumidor, os empréstimos estudantis não têm demonstrado muita melhoria no desempenho, apesar de uma certa melhoria na economia como um todo."
No primeiro semestre deste ano, os empréstimos estudantis foram a única categoria de empréstimo em que a taxa de inadimplência aumentou. Como os cortes no orçamento federal estão levando muitas universidades públicas americanas a aumentar as mensalidades, os estudantes estão arcando com uma parcela maior de suas despesas com a educação.
Alberto Gutierrez, um doutorando de 38 anos da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, teve que pegar mais dinheiro emprestado e conseguir um emprego de meio período para cobrir suas despesas, que incluem prestações mensais de US$ 3.000 para saldar um empréstimo imobiliário. Ele recebe uma certa ajuda financeira, mas não tanto quanto gostaria. "Trata-se de uma universidade pública e portanto os cortes têm sido grandes. Os recursos estão muito escassos", diz ele.
Para prosseguir os estudos, Gutierrez tomou emprestados outros US$ 10 mil. "Terei uma dívida de cerca de US$ 25 mil quando terminar. Nunca devi tanto dinheiro."
Alguns observadores vêm comparando o potencial impacto de um grande aumento das inadimplências no crédito estudantil à crise dos empréstimos subprime no mercado imobiliário residencial, em que um aumento dos calotes contaminou a economia americana inteira. Os critérios para os empréstimos estudantis garantidos pelo governo não são tão rígidos quanto para outros tipos de endividamento, e muitos empréstimos têm sido securitizados e vendidos para investidores.
A expansão do setor de ensino universitário com fins lucrativos, onde na última década as matrículas cresceram dez vezes mais do que nas universidades públicas e sem fins lucrativos, está provocando uma preocupação especial: as taxas de calote entre os estudantes das faculdades com fins lucrativos estão significativamente maiores. Um relatório divulgado no ano passado pelo Departamento de Contabilidade do governo dos EUA constatou que algumas escolas com fins lucrativos "encorajaram práticas fraudulentas" ao aconselhar estudantes a solicitar ajuda financeira federal.
Mas embora o endividamento total pendente dos estudantes esteja projetado para alcançar US$ 1 trilhão no futuro próximo, segundo o Departamento da Educação, ele ainda é consideravelmente menor que os US$ 2,5 trilhões estimados para os arriscados empréstimos subprime.
Enquanto os donos de residências podem dar calote em suas dívidas, os estudantes não podem fugir de seus empréstimos. Os salários dos tomadores de empréstimos estudantis podem ser embargados e suas dívidas não podem ser incluídas em uma declaração de falência, exceto em casos de problemas muito graves.
"Não acho que uma crise subprime esteja sendo criada", diz Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytcs. Mas ele acrescenta que haverá uma inadimplência e taxas de perdas maiores sobre os empréstimos, uma vez que os diplomados enfrentam um cenário econômico difícil. "Os empréstimos estudantis historicamente sempre exibiram problemas de crédito e isso vai piorar."
Ativistas como o site liberal Moveon.org vêm conclamando governo e bancos a perdoarem as dívidas dos estudantes. A proposta é conseguir o apoio dos manifestantes do movimento Ocupem Wall Street, que estão protestando contra os excessos do setor financeiro.
Ani Monteleone, que se formou pelo Oregon College of Art and Craft em 2006, carregava em uma manifestação realizada em Wall Street em 5 de outubro, um cartaz pedindo perdão às dívidas estudantis. Ela disse que as prestações mensais dos empréstimos são um fardo para os diplomados que já têm problemas para pagar suas contas e conseguir emprego. "Eles socorreram os bancos. Por que não podem socorrer as pessoas?"
Para alguns analistas, um plano desses seria socorrer as pessoas erradas. "Não se trata de criar uma distribuição de renda mais justa", diz Justin Wolfers, da Wharton Business School da Universidade de Pensilvânia. "Na verdade os alunos que abandonam o ensino médio é que estão se saindo mal, não necessariamente os formados pelas universidades."
O ônus do aumento dos empréstimos educacionais vem caindo de uma maneira desproporcional sobre os estudantes mais pobres, que estão pagando mais para estudar mesmo com os custos médios caindo no último ano, afirma a Sallie Mae, agência que concede empréstimos estudantis. Enquanto as famílias americanas pagaram em média 9% menos com a faculdade dos filhos em 2010-11, em comparação ao período anterior, o volume pago pelos lares com renda anual inferior a US$ 35 mil cresceu 14%. Para atender o aumento das demandas, os pais de rendas mais baixas contribuíram com mais renda e contraindo mais empréstimos.
Os alunos estão recebendo mais subvenções e bolsas, mas a maior parte desse crescimento foi para as famílias das classes média e alta. O nível de subvenções e bolsas de estudo para os estudantes de famílias de baixa renda permaneceu estável em relação ao ano anterior.

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