15 de outubro de 2011

Historia da África: UNESCO


15 de outubro de 2011
Unesco | O Estado de S. Paulo | Sabático | BR

Nas salas de aula


Material didático começará a ser distribuído em março 
LISANDRA PARAGUASSU
As escolas públicas brasileiras começarão a receber, já no próximo ano, o primeiro material didático produzido no País sobre a história da África, a diversidade cultural dos negros e a participação dessa população na formação do Brasil. Os textos, preparados pela Universidade Federal de São Carlos com base na extensa bibliografia História Geral da África, compilada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), começam a ser distribuídos em março, inicialmente para as turmas de educação infantil.
O material completo inclui livros para os alunos e material de orientação para o professor.
Até o fim de 2012, estudantes do ensino fundamental e médio em todo o País também terão nas mãos livros didáticos específicos sobre o tema, mas que vão além da história. "Quando falamos em história geral, se pensa na visão formal do processo histórico, mas serão trabalhados vários aspectos. A intenção é ter uma proposta multidisciplinar", explicou o coordenador de educação para as relações étnico-raciais do Ministério da Educação, Antônio Mário Ferreira. "Temos material de literatura, geografia, biologia, matemática e a história propriamente dita." Para as crianças de 4 a 6 anos, o trabalho pode envolver, de acordo com o coordenador, cores, música - como o uso da percussão pelos povos africanos - e lendas locais, entre outros elementos. A intenção é que os professores, com ajuda dos livros de orientação, desenvolvam atividades que auxiliem os estudantes a aceitar, desde pequenos, a diversidade racial, cultural e social.
O ensino da história da África e da cultura negra nas escolas brasileiras tornou-se lei em 2003. No ano seguinte, um parecer do Conselho Nacional de Educação definiu a maneira como o tema deveria ser tratado nas escolas. Entretanto, não havia nenhum tipo de material didático que pudesse ser distribuído aos professores.
Um acordo com a Unesco permitiu ao MEC reproduzir a bibliografia preparada pela Organização, composta de oito volumes.
Este ano, o ministério enviou o material para todas as universidades públicas e filantrópicas do País e permitiu o seu acesso via internet. "Até agora, já foram feitos mais de 30 mil downloads", revelou Ferreira. "No entanto, esse é um material muito denso, para pesquisadores." Por essa razão, o MEC contratou a UFSCar para fazer, além do material didático, um resumo da obra. São dois volumes, de 800 páginas cada um, que chegarão ainda este ano às bibliotecas das escolas públicas de ensino médio.






Coleção segue perspectiva de especialistas nativos: outras obras abordam iorubá e artesÉ uma história que começou a ser escrita em 1964 e só finalizada maisde30anosdepois, exigindo a participação de 350 especialistas sob a coordenação de um comitê científico internacional de 39 intelectuais.
Lançada originalmente entre 1980 e 1999, a coleção História Geral da África,que tem oito volumes, acaba de receber sua primeira edição comercial no Brasil pela Cortez Editora, em parceria com a Unesco.
Coordenador técnico da edição em português, o professor Valter Silvério, do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos, anuncia que a publicação (320 mil acessos pelo site da Unesco) terá ainda uma edição resumida. Ela está a caminho e vai ser lançada, no próximo mês, em dois volumes, dirigidos a professores da área de educação básica.
A princípio, existia a proposta de um nono volume, sobre a diáspora africana, para completar a coleção, pois o oitavo, que começa em 1935, apesar de abordar as lutas políticas na África - de 1945 à independência de vários países -, não contempla as mudanças provocadas pela globalização. Dos oito volumes, o quinto, segundo Silvério, é fundamental para os professores, pois acompanha desde a vinda dos primeiros africanos para o Brasil até o colapso de antigos Estados como a Etiópia cristã e Songhai (oeste do Sudão).
Os dois volumes que estão prontos para os professores são mais acessíveis que os da coleção integral. "Por ser uma obra de referência, mantivemos a forma original de História Geral da África, respeitando o olhar dos pesquisadores africanos", justifica Silvério.
Não é, portanto, o olhar do colonizador, nem despreza as fontes orais dessa história - cujo marco zero, no livro, é a pré-história do continente e o período final do Neolítico.
O olhar do colonizador, segundo o professor, "separou a África branca da África negra" e mais confundiu que explicou a diversidade de culturas do continente, visto na coleção numa perspectiva de unidade africana.
No primeiro volume, além de contar a pré-história da África, os pesquisadores abordam os aspectos linguísticos e as migrações no continente. Uma língua, cuja origem constitui um mistério, é o iorubá, que acaba de ganhar um dicionário.
Outro título fundamental recentemente relançado em nova e ampliada edição é A Mão Afro-Brasileira, organizado pelo curador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, que cedeu todas as imagens das capas da coleção História Geral da África. Além de analisar a contribuição de artistas afrodescendentes para a história das artes (pintura,escultura, música, dança, fotografia, arquitetura), do Brasil colonial ao contemporâneo, os volumes destacam o trabalho de pessoas que ajudaram a construir o patrimônio visual, jornalístico e literário do País.
Particularmente interessante é o capítulo dedicado aos escritores afrodescendentes, que apresenta, de maneira sintética, um panorama da literatura negra nacional, da primeira romancista brasileira, a maranhense Maria Firmina dos Reis(1825-1917), mulata e bastarda, ao poeta paulista Cuti. / A.G.F.

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