HÉLIO SCHWARTSMAN, Folha de São Paulo
A mágica da realidade
SÃO PAULO - Alguém já disse que livros infantis tratam as crianças como idiotas. Como já faz décadas que perdi o hábito de lê-los, eu não saberia dizer. O que posso afirmar é que, se a assertiva é verdadeira, ela acaba de ser desmentida pelo biólogo britânico Richard Dawkins.
Lançado na última terça no mundo anglófono, "The Magic of Reality" (a mágica da realidade) é uma introdução à ciência que leva a sério tanto as crianças como a epistemologia. Partindo daquelas perguntas que pais nunca sabemos responder, do tipo "quem foi a primeira pessoa?", "do que as coisas são feitas?", "como tudo começou?", o autor cobre os aspectos mais fundamentais da biologia, da físico-química, da astronomia e da geologia.
De quebra, Dawkins propõe discussões que ficam no limite entre a ciência e a filosofia, especulando sobre as chances de haver vida em outros planetas ou tentando explicar por que "coisas ruins" acontecem.
Em termos de estrutura narrativa, os capítulos começam com mitos que buscam tornar inteligível o fenômeno analisado e, quando os limites dessas historietas ficam escancarados, entra a ciência.
Quase tão fascinante quanto o texto de Dawkins são as ilustrações de Dave McKean, que, na versão eletrônica para iPad, ganham movimento. Há também alguns joguinhos. Nada muito sofisticado, mas serviram para atrair a atenção de meus filhos de nove anos, que logo se puseram a ler o livro com avidez.
É claro que Dawkins não seria Dawkins se não aproveitasse a ocasião para fazer um pouco de propaganda do ateísmo. Mas, ao menos na comparação com "Deus, um Delírio", ele está bastante bem-comportado. Não reserva palavrões para o Criador nem afirma que a religião é um mal.
O que o autor tenta mostrar ao longo do livro é que a realidade, isto é, a ciência, revela-se muito mais mágica e excitante que todos os mitos e religiões. É uma tese bastante razoável.
helio@uol.com.b
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