12 de janeiro de 2012

Na educação, cursos formais perdem força e os técnicos ganham espaço


12 de janeiro de 2012
Educação no Brasil | O Globo | Economia | BR



IRENE MACHADO, do IBGE, diz que famílias priorizam carros e internet

RETRATOS DO BRASIL
Hipóteses vão do aumento do ensino público à redução de filhos nas famílias
Clarice Spitz clarice.spitz@oglobo.com.br Henrique
Gomes Batista henrique.batista@oglobo.com.br

Considerada fundamental para o aumento da competitividade nacional, a educação perdeu peso no novo IPCA, divulgado pelo IBGE ontem e que leva em conta os hábitos de consumo de 2008/2009. Segundo o instituto, 4,3735% do orçamento médio familiar são destinados ao item, contra 7,2137% no antigo IPCA, baseado no consumo das famílias em 2002/2003. Cursos formais, de educação infantil ao ensino superior, passando por cursos diversos, como preparatórios e idiomas, perderam participação no índice oficial de preços do país. Já pós-graduação (passou de 0,1434% do orçamento familiar para 0,2239%) e cursos técnicos (subiram de 0,026% para 0,0725%) ganharam espaço no orçamento.
Especialistas divergem sobre esta queda de participação no IPCA, uma vez que o custo da educação tem crescido mais que a inflação. No ano passado, por exemplo, enquanto o IPCA subiu 6,50%, os preços da educação subiram 8,09%. Além disso, eles alertam que há uma maior conscientização da importância do ensino no Brasil.
- Apesar de a renda ter aumentado, as famílias decidiram transferi-la para outros gastos. Elas decidiram tirar os filhos das escolas privadas em função dos preços e realocar a renda com serviços, automóveis e internet - explicou Irene Machado, técnica do IBGE.
Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, diz que parte da redução do peso da educação no IPCA pode ser atribuída a novas prioridades de consumo. Ele lembra que o período de tempo que foi atualizado coincide com o crescimento da chamada nova classe C, que priorizou outros tipos de gastos.
- Olhando os itens que compõem a educação, vemos queda em leitura, motivada pela redução de assinaturas de jornais e revistas, cursos diversos e cursos regulares. Uma hipótese é que parte da classe que mais cresceu em consumo pode ter priorizado a compra de bens e mantido os filhos em escolas públicas. A educação também melhorou e parte dos cursos extras passaram a ser oferecidos pelas escolas. E ainda há o peso dos programas de financiamento educacional, como o Fies, que reduzem os custos mesmo de pessoas que passaram a frequentar universidades.
Para a economista Tatiana Menezes, professora da UFPE, o peso da educação no orçamento caiu porque, mesmo com a evolução dos preços acima da inflação, outros itens, como habitação e transportes, cresceram ainda mais e conquistaram um peso relativo ainda maior.
Mozart Ramos, integrante do Conselho Nacional da Educação e do Todos Pela Educação, afirmou que se surpreendeu com a redução do peso da educação no orçamento familiar e no IPCA:
- Isso não condiz com as pesquisas qualitativas que fazemos, que apontam para uma valorização da educação.
Ele acredita que isso ainda merece ser pesquisado. Ramos diz que a única hipótese plausível é social: as famílias estão menores que no passado, o que faz com que, mesmo elevando o custo da educação por aluno, o peso total no orçamento doméstico se reduza, pois há menos filhos para serem educados.

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