27 de maio de 2012

Subemprego cresce entre jovens nos EUA


Pesquisa do Gallup mostra que 1 em cada 3 pessoas até 29 anos só trabalha meio período ou busca vaga sem sucesso

Tema já faz parte da campanha presidencial, com anúncios em que a oposição cobra Barack Obama pelo problema
Brian Snyder/Reuters

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON
VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK
Ayesha, 25, acaba de concluir o mestrado pela prestigiosa Universidade de Georgetown. Danielle, 22, se formou na semana passada pela respeitada New School.
O momento de festa veio com um choque de realidade: no mês em que elas e 1,6 milhão de universitários recebem o diploma nos EUA, o Gallup divulgou uma pesquisa mostrando que 1 em cada 3 jovens de até 29 anos está subempregado no país -trabalha meio período ou procura emprego sem sucesso.
É mais do que o dobro de qualquer outra faixa e o pico em um ano, apesar da melhora do mercado de trabalho.
Enquanto o desemprego encolheu para 8,1% em abril, segundo o governo, quem tem de 18 a 29 anos enfrenta um índice de 13,6% (na aferição do Gallup; não há recorte oficial dessa faixa etária).
O resultado é uma crise de confiança. "Se fosse mais fácil achar meu emprego ideal, não estaria questionando a área que escolhi", diz Ayesha Chugh, que se pós-graduou em democracia e governança e se candidatou a quatro vagas em desenvolvimento.
Após a graduação e a pós, intercaladas por um ano em uma ONG na Índia (onde sua família vive), ela trabalha meio período em um centro de estudos em Washington, mas busca uma vaga integral.
"Quero fazer pesquisa, mesmo que receba US$ 35 mil ao ano", afirma. O equivalente a R$ 5.900 brutos por mês, sem 13º nem férias, diz, "é pouco para quem fez tantos empréstimos para estudar".
Ayesha calcula ter acumulado entre R$ 142 mil e R$ 206 mil em dívidas. "Prefiro ter de pagar o empréstimo a vida toda do que deixar passar a oportunidade acadêmica."
Danielle Docheff parou na graduação em estudos globais, por ora. "Não me sinto confortável em pegar um empréstimo sabendo que posso ter um emprego e mesmo assim não pagar a dívida."
Elas reclamam que os empregadores exigem mestrado e experiência para contratar - algo inconciliável, a seu ver- e cobram cada vez mais de estagiários e iniciantes.
"Antes, o estágio era para aprender. Agora virou trabalho de graça", conclui Danielle, que tentou cinco vagas.
As queixas ecoam um levantamento do Centro de Pesquisa Pew com 2.142 pessoas das quais 57% afirmam que as faculdades não dão aos estudantes um retorno à altura do dinheiro investido.
DESÂNIMO
Esse resultado vem mais da percepção do que de fatos, já que o índice de desemprego para quem tem ensino superior está em torno de 4%.
Mas flagra um paradoxo geracional: nunca os americanos estudaram tanto (40% da população de 18 a 24 anos estava na faculdade em 2009, ante uma média nacional de 28% de diplomados) e nunca foi tão difícil "entrar no mundo real", como diz Danielle.
Um novo estudo do Centro de Pesquisa do Congresso confirma a percepção de 82% dos entrevistados do Pew, para os quais essa geração tem mais dificuldade de achar emprego do que a dos pais.
"Essa demora não os prejudica só temporariamente. Ela os priva da experiência necessária para um emprego melhor no futuro", aponta o Gallup. "Priva também as empresas americanas de terem funcionários qualificados e experientes no médio prazo."
A tendência, um círculo vicioso, aparece de forma aguda na Europa, onde o desemprego nessa faixa chega a 30% em alguns países e o subemprego é praxe, arriscando uma geração perdida.
Nos EUA, o desalento já produz dois efeitos colaterais culturalmente transformadores: a permanência na escola e o retorno à casa dos pais.
"Os jovens decidem continuar estudando diante da perspectiva tíbia de emprego e a crescente necessidade de mais educação para prosperar", nota a especialista em política social Adrienne Fernandes-Alcantara, autora da pesquisa do Congresso.
Nas grandes universidades, são cada vez mais comuns nas salas da pós-graduação jovens que saíram direto da faculdade, sem passar pelo mercado de trabalho.
De 2007 a 2011, o Censo registrou um salto de 25% no número de pessoas de 25 a 34 anos vivendo com os pais.
A oposição ao presidente Barack Obama notou e tenta capitalizar sobre esse quadro em ano eleitoral. Em um comercial, o grupo do estrategista republicano Karl Rove mostra uma atriz que interpreta uma jovem mãe observando os filhos jogarem basquete no quintal se transformar em uma senhora lamentando assistir à mesma cena.
Danielle já cogita voltar a Nova Jersey, dizendo ter sorte pelos pais que podem ajudá-la. Para Ayesha, retornar à Índia é desistir. Mas ela não descarta trabalhar no exterior ganhando pouco. "Ao menos o custo de vida é menor."
F.de S.Paulo, 27 de maio, 2012

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