A purificação da memória nasce da ética do perdão, do exemplo de Gandhi, Luther King e Mandela
A instalação da Comissão da Verdade e o veto parcial ao Código Florestal marcam a diferença entre a Presidência atual e as passadas. Os historiadores registrarão esses atos, sobretudo o primeiro, como mudanças significativas, não tanto pelas imediatas consequências práticas, mas pela alta carga simbólica.
Tardia em relação a países vizinhos, a Comissão é inédita em nossa História. Os crimes do Estado Novo deixaram apenas rastros pungentes como os das "Memórias do Cárcere", o livro de Graciliano e o filme de Leon Hirszman.
O calculismo da aliança tática com Getúlio obrigou o Partido Comunista a esquecer os crimes de que fora vítima. O que se espera agora da Comissão? Quase nada e tudo ao mesmo tempo: só a verdade como base da "purificação da memória".
Esta era definida ao tempo de João Paulo 2º como "o processo de libertar a consciência de todas as formas de ressentimento e violência herdadas das culpas do passado".
A fim de conduzir à reconciliação, o processo tem de passar pelo reconhecimento da responsabilidade e por algum tipo de reparação. Decorrida uma geração, ela será sempre imperfeita, talvez limitada ao primeiro de todos os direitos, o "direito à verdade".
E, se possível, ao mais sagrado e ancestral direito, o que remonta à tragédia de Antígona: poder honrar e sepultar os próprios mortos.
Não se trata de vingança ou desforra. A purificação da memória nasce da ética do perdão, do exemplo legado pelos três gigantes morais que dominam o século 20: Gandhi, Martin Luther King e Mandela.
O veto aos excessos do projeto florestal não tem igual dimensão moral. Não obstante, ressalta em comum com a constituição da Comissão o equilíbrio e construtiva moderação do processo decisório. Buscou-se não dar vitória a um lado e sim construir o consenso possível, imperfeito, nunca definitivo e aberto a constante aperfeiçoamento.
Merecem destaque o reconhecimento do esforço contido no projeto do Senado, a atenção prioritária aos pequenos agricultores com dificuldades para fazer frente aos custos ambientais, o desejo de restabelecer as áreas de preservação ameaçadas. Acima de tudo prevaleceu o bom senso, a convicção de que meio ambiente e agropecuária devem ser vistos como se reforçando um ao outro, não como adversários incompatíveis.
A sabedoria das decisões enfrenta para ser eficaz um desafio adicional: a de que os destinatários mostrem igual sabedoria e comedimento, que se disponham a sacrificar algo da perspectiva particular em favor do predomínio do interesse coletivo maior.
Para isso, tanto o funcionamento da Comissão da Verdade quanto a tarefa de completar e melhorar a legislação ambiental terão de contar com atitudes construtivas e conciliadoras de todos os principais atores envolvidos.
Se isso ocorrer, poderemos dizer que o Brasil se move na direção certa, dando realidade às quatro ideias-força que resumem o progresso da consciência humana no século 21: os direitos humanos, o meio ambiente, a igualdade entre mulheres e homens, a realização do desenvolvimento pleno definido como a promoção de todos os homens e do homem como um todo.
Folha de S.Paulo,28 de mayo, 2012
O Veto também mostra que a República no Brasil concentra poderes demais na pessoa do Presidente.
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As discussões no Congresso Nacional sobre esse código levaram anos. A Presidente vetou e alterou o texto produzido pelo Congresso Nacional com apenas 1 ato e de supetão, sem nem mesmo informar seus aliados!
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Sem contar que também foi publicada uma medida provisória sobre o mesmo assunto, antes mesmo do Congresso ter uma chance de deliberar sobre o veto.
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Enfim: a Presidência da Repúlica concentra mais poderes nas mãos do que o Imperador Dom Pedro II concentrava na época do Império!
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A monarquia Brasileira levou anos para abolir a escravidão porque o Imperador não tinha tanto poder. Se fosse hoje, bastaria uma medida provisória e azar do Congresso eleito pelo povo.
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Isso está errado. Pouco me importa se a Presidente agiu eticamente ou não. A questão é que nenhum país civilizado deve se permitir ter um chefe de Estado absoluto que concentre tantos poderes nas mãos. Ainda mais poderes de passar por cima dos representantes do povo: O Congresso Nacional.
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O Brasil precisa que o Poder seja melhor dividido para evitar abusos. Enquanto houver tamanha concentração de Poder em apenas uma pessoa, nunca resolveremos o problema da corrupção.
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O Estado precisa ser Separado do Governo. O Poder precisa ser melhor dividido. Ninguém pode, nem deve ter tanto poder concentrado nas mãos.
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A melhor forma de resolver isso é através da Monarquia Parlamentarista. Veja: http://www.matutando.com/estado-e-governo-porque-separar/
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Atenciosamente,
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Sebastião Marques