29 de maio de 2012

CLÓVIS ROSSI Para que servem a ONU e o Brasil?



Impotência da comunidade internacional é estímulo para que massacres se repitam seguidamente
No domingo, o Conselho de Segurança da ONU condenou "nos termos mais fortes possíveis" o massacre praticado pelas tropas sírias na cidade de Houla (108 mortos, dos quais 32 eram crianças).
Aderiram até Rússia e China, países que, até agora, protegeram o ditador Bashar Assad.
O ditador tremeu, então? Nada. Repetiu o massacre menos de 24 horas depois da nota, desta vez na cidade de Hama, de novo com a morte também de crianças (oito, segundo as contas que a mídia ocidental reproduzia na tarde de ontem).
Sempre convém lembrar que, há exatos 30 anos, Hama havia sido vítima de uma matança de muito maior dimensão, praticada pelo pai do atual ditador, Hafez Assad, com cerca de 20 mil mortos. O que significa que os Assad, pai e filho, cometem há muitos anos "flagrante violação das leis internacionais", como diz, sobre Houla, o comunicado da ONU.
O que fez nesses 30 anos e o que faz agora a comunidade internacional? Nada, rigorosamente nada, a não ser adotar reações puramente retóricas que, como todo o mundo sabe -e a sequência Houla/Hama confirma-, não servem de escudo contra balas.
Admitamos que não é fácil reagir de acordo com a legalidade internacional, que exige o aval do Conselho de Segurança, o que impõe conciliar interesses geralmente divergentes entre os cinco países que têm direito de veto (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido). Ainda mais quando dois desses países ou são uma ditadura como a de Assad (China) ou têm baixo teor de democracia nas veias (Rússia).
Ainda assim, passou da hora de estabelecer algum tipo de mecanismo que permita evitar as tais "violações flagrantes da legislação internacional". A impotência da ONU aduba o terreno para que outras ditaduras pratiquem massacres, que agora são em tempo real.
O "Guardian" informava, em sua edição on-line, que Ismail Ghani, um dos comandantes da Guarda Revolucionária do Irã, admitiu que tropas de seu país estão atuando na Síria, segundo ele para "prevenir massacres" praticados pela oposição a Assad.
Quando ditaduras têm as mãos livres para agir e as democracias ficam apenas olhando e falando, alguma coisa está profundamente errada na governança global.
Como errada está também a diplomacia brasileira ao sobrepor o respeito à soberania de cada país ao direito à vida de seus cidadãos. Soberania, em um mundo civilizado, não pode incluir a soberania de praticar massacres contra a própria população.
Até entendo que o Brasil não tem peso nem militar nem econômico para influir de fato no mundo. Mas tem -ou deveria ter- o chamado "soft power", o fato de ser uma das maiores democracias do mundo e sem ambições hegemônicas, para fazer ouvir sua voz sem as ambiguidades e tergiversações que o têm caracterizado nesse capítulo.
O Itamaraty não se sente incômodo em ser parceiro nos Brics de Rússia e China, que protegem ditaduras e, por extensão, os massacres? Ou do Irã, cujo presidente está para chegar para a Rio+20, que se orgulha de ser cúmplice de massacres?

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