Folha de S.Paulo, 27 de maio, 2012
SÃO PAULO - Não são poucos os que acusam a física contemporânea de estar criando um universo de abstrações matemáticas intestáveis. Para esses críticos, a disciplina estaria se aproximando perigosamente da metafísica e da religião.
Acaba de ser lançado no Brasil o excelente "A Realidade Oculta", em que Brian Greene, um dos profetas dessa nova física, defende sua filosofia. Greene descreve de modo quase compreensível nada menos que nove versões de multiverso, isto é, da ideia de que existem realidades paralelas.
De acordo com alguns desses modelos, há mundos em que diferentes versões de você leem agora esta mesma coluna; em outros, seu eu alternativo está lendo a coluna, mas ela fala de escultura. O número de realidades pode ser infinito, ou, ao menos, absurdamente grande, abarcando todas as possibilidades concebíveis que não violem as leis da física.
Em outros modelos, universos paralelos brotariam como bolhas de sabão, resultado de flutuações quânticas submetidas à inflação cósmica. Combinações desses nove tipos não estão descartadas. Algumas propostas são tão complexas que até religiões parecem mais lógicas.
Dá para acreditar nessas coisas? Essa é a polêmica entre realistas e instrumentalistas. Para os primeiros, a resposta é sim. Universos paralelos existem e devemos crer neles porque é aonde as equações nos levam. Lembram que não havia ideia mais estranha que a de que a Terra se move em altíssima velocidade pelo espaço. Afinal, o que vemos é o Sol cruzando os céus e não sentimos movimento algum. Foi a matemática de Copérnico que nos levou ao paradigma heliocêntrico, hoje inconteste.
Já para os instrumentalistas, a realidade é, no fundo, incognoscível. Tudo o que a ciência pode oferecer são previsões corretas e é a elas que devemos nos ater. Em termos rigorosos, não sabemos ao certo nem se a matemática e a lógica são reais.
Façam suas apostas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário