21 de maio de 2012

Taxa de desemprego entre jovens chega a 12,7% no mundo e deve permanecer alta até 2016



Preocupante, sério e dramático são alguns dos adjetivos usados por especialistas para descrever a atual situação do desemprego juvenil no mundo. E os números divulgados hoje pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) comprovam o cenário negativo para os jovens e dão um recado ainda mais desolador: não há perspectiva de melhora significativa nos próximos anos.
A taxa de desemprego dos trabalhadores que têm entre 15 e 24 anos foi de 12,6% no mundo em 2011 e deve ficar em 12,7% este ano, segundo a OIT. O desempenho é muito próximo dos 12,6% registrados em 2009, no ponto mais alto da crise econômica. A entidade projeta que a taxa se mantenha neste nível pelo menos até 2016.
O quadro é mais grave quando se trata das economias desenvolvidas e da União Europeia. Hoje em 18%, esse desemprego deve ter apenas leve recuo até 2016, para 16%. Para a OIT, são “níveis dramáticos”. Em 2000, a taxa mundial era 12,7%, mas a dos países desenvolvidos e da Europa era muito inferior ao nível atual, de 13,5%. Dados da Eurostat — agência oficial de estatística da União Europeia — que se referem às realidades nacionais são ainda mais elevados. Na Grécia e na Espanha, mais da metade dos jovens não trabalham, com taxas de 51,2% em janeiro e 51,1% em março, respectivamente. Na América Latina, as taxas são menores, mas ainda assim elevadas. O relatório da OIT revela que o desemprego na região foi de 14,3% em 2011 e projeta que permaneça estável este ano. Até 2016, deve oscilar entre 14,4% e 14,6%.
No mundo, existem hoje 74,5 milhões de jovens sem trabalho, quatro milhões a mais que em 2007. Entre os adultos — aqueles com mais de 25 anos —, a taxa de desemprego mundial foi de 4,5% em 2011, com 127,9 milhões de pessoas no grupo.
— O desemprego entre os jovens é geralmente maior que entre adultos. Quem está entrando no mercado costuma ter mais dificuldades para conseguir uma vaga. A questão é que o desemprego juvenil passa por uma situação séria hoje, com taxas muito elevadas — diz o professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia.
Tradicionalmente, o desemprego é maior entre os jovens — a relação costuma ser entre duas a três vezes maior —, seja pelo fato de estar entrando no mercado, a falta de experiência, o menor conhecimento dos empregadores ou até porque são os primeiros a serem demitidos numa hora de cortes. Quando há uma crise, se os empregos em geral são afetados, o dos jovens têm maior impacto.
— O desemprego é preocupante e a crise tem origem lá atrás, com a entrada da China na Organização Mundial do Comércial (OMC) e sua transformação em um dos maiores exportadores do mundo, trazendo um choque de produtividade no mundo. A crise econômica (de 2008) potencializou esse problema. E os jovens sentem mais — afirma o professor da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos José Marcio Camargo.
Para o economista, o mundo desenvolvido passa por uma mudança de estrutura econômica, que o obriga a se tornar mais competitivo, e que se reflete em um aumento nos níveis de desemprego. Processo de ajuste pelo qual o Brasil atravessou nos anos 90 e a Alemanha, após a reunificação.
No Brasil, segundo os últimos dados do IBGE, de março, a taxa de desemprego entre quem tem de 18 a 24 anos é de 14,5%. Na faixa etária entre 15 e 17 anos, a taxa é de 24,6%.
— Isso vai acontecer na Europa e nos Estados Unidos. É um problema estrutural e, por mais que haja políticas de trabalho ativas e agressivas, vai demorar a ser solucionado. Se a economia crescer, o desemprego vai cair, mas lentamente — diz Camargo.
João Saboia afirma que não tem uma visão muito otimista para o desemprego juvenil num futuro próximo, principalmente no caso europeu. Isso porque não se espera que a economia mundial volte a crescer fortemente em breve.
Sentimento de inutilidade e baixa auto estima
Segundo a OIT, ainda que algumas regiões tenham conseguido mitigar parte do impacto da crise econômica global, todas enfrentam grandes desafios no que se refere ao desemprego juvenil. A situação nas economias desenvolvidas e na Europa é ainda pior do que transparece a taxa de 18%, já que muitos abandonam ou adiam a busca de emprego.
“A taxa de desemprego terá uma pressão adicional quando os jovens que prolongam sua permanência no sistema educacional devido à falta de oportunidades finalmente entrarem no mercado de trabalho”, alerta o documento da OIT.
Outra conclusão importante do estudo é que muitos jovens estão presos a trabalhos temporários, de baixa produtividade e que não prometem melhores oportunidades.
— Ainda assim é melhor um trabalho temporário ou precário que nenhum. A renda zero traz importantes consequências psicológicas, com a perda de auto estima — destaca João Saboia.
No documento, a OIT descreve que o desemprego jovem tem sido tradicionalmente ligado à exclusão social e que a inabilidade de encontrar emprego cria um sentimento de inutilidade e inatividade entre os jovens.
— O fato de não termos uma perspectiva de melhora no cenário é péssimo porque cria uma expectativa muito ruim para quem está desempregado. Há um desânimo forte — diz Camargo.
Consequências para vida profissional
Mesmo depois de vencerem os momentos mais críticos, os jovens desempregados tendem a ter toda a vida profissional comprometida pelo início turbulento. Em seu relatório Tendências Mundiais do Emprego Juvenil 2012, a OIT destacou que elevado e persistente desemprego juvenil têm importantes consequências de longo prazo para esses jovens, como maior risco de desemprego futuro, um período prolongado de empregos instáveis e risco potencial de renda menor.
— Se a pessoa não consegue emprego quando jovem, sua vida será mais difícil mais à frente — ressalta José Marcio Camargo.
Quem fica desempregado por muito tempo ainda tende a perder suas habilidades, lembra João Saboia. O jovem que demorar a conseguir trabalho depois de acabar a universidade, por exemplo, pode acabar esquecendo seus conhecimentos.
O Globo. 21 de maio, 2012

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