EDITORIAIS
editoriais@uol.com.br, Folha de S.Paulo, 16/4/2013
À primeira vista, há muito a comemorar na notícia de que em 2011 houve mais que o dobro de calouros em cursos de engenharia do que cinco anos antes. O aumento acelerado mostra que os jovens brasileiros estão atentos e reagem racionalmente à carência de profissionais nessa área essencial para o desenvolvimento do país.
Em 2006, mostram dados do Censo da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), os cursos de engenharia receberam 95 mil novos estudantes, em números redondos. Eram 5% do total de calouros. Em 2011, esse contingente havia saltado para 277 mil --um décimo dos ingressantes.
Pela primeira vez, o número de candidatos a engenheiros ultrapassou o de aspirantes na carreira de direito (199 mil). O preferido é o curso de administração, que --como o de direito-- só precisa de salas e professores para funcionar e confere formação generalista supostamente útil em qualquer setor.
O caso da engenharia é, obviamente, muito diverso. Não só exige laboratórios e bancadas como forma especialistas: engenheiros civis (24% dos calouros), de produção (19%), mecânicos (12%), elétricos (11%) e assim por diante. É desse pessoal com formação técnica apurada que o país carece.
O otimismo com o avanço na procura pela engenharia arrefece quando se leva em conta que poucos desses jovens de fato acabam por formar-se. A cada ano, apenas cerca de 45 mil obtêm seu diploma.
Como a demanda do mercado de trabalho ronda a casa de 70 mil novos engenheiros por ano, o deficit é de pelo menos 20 mil. Estima-se que a China forme anualmente 600 mil engenheiros --13 vezes a cifra do Brasil, para uma população seis vezes maior.
A grande muralha, por aqui, é a dificuldade dos alunos para acompanhar o curso. Cálculo, estatística e física vão abatendo os aspirantes ao longo dos cinco anos da graduação. A maioria deles chega à faculdade com deficiências graves nessas disciplinas, que deveriam ter aprendido no ensino médio.
O incremento rápido de ingressantes nas engenharias significa uma proporção ainda maior de jovens com má formação básica. Não é preciso ser pessimista para predizer que a deprimente proporção de formandos pode cair ainda mais.
A procura por cursos superiores para formar professores de matemática, física e química, aliás, caiu ligeiramente --de 3% para 2,8%. Aí também a carência é aguda.
Sem docentes para preparar alunos capazes de encarar as exigências acadêmicas do terceiro grau, como esperar que o país forme todos os engenheiros de que necessita? A conta não fecha.
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