6 de fevereiro de 2011

O PROFESSOR E A QUALIDADE DO ENSINO

 Zero Hora | Editorial 


  Pesquisas nacionais e avaliações internacionais não deixam dúvida de que a educação brasileira vai mal. De acordo com o último relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil ocupa a 53ª posição entre 65 países pesquisados pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). As aferições internas também não são animadoras. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, indicador que se baseia no desempenho dos alunos em avaliações do Inep e em taxas de aprovação, registra notas vermelhas para os estudantes brasileiros: 4,6 para o Ensino Fundamental 1 (da 1ª à 5ª série) e 4,0 para o Ensino Fundamental 2 (da 6ª à 9ª série). O Ministério da Educação fixou a média 6,0 como meta a ser atingida pelo país até o ano de 2021. Já foi pior, mas os avanços têm sido tão lentos que o país corre o risco de perder o trem do desenvolvimento por causa da má formação de seus estudantes. Neste contexto, que pode ser enriquecido por várias outras informações igualmente preocupantes (12,6% dos alunos repetem a 1ª série do Fundamental, quase metade dos jovens brasileiros de 19 anos não conseguiu concluir o Ensino Médio), questiona-se no país a competência dos professores para liderar a transformação desejada. Especialistas atribuem os péssimos índices da educação básica à falta de professores qualificados. E a queda de interesse pelo magistério na inscrição de jovens em cursos universitários parece confirmar esta interpretação.
Significa que os professores são os culpados pela má qualidade do ensino? Evidentemente que não. Significa, isto sim, que o país e seus sucessivos governos vêm cometendo um verdadeiro crime contra uma profissão essencial para a preparação do futuro de sua juventude. A desvalorização do magistério começa pela péssima remuneração dos docentes, que sequer lhes permite investir na própria formação. Somem-se a isto as dificuldades do ensino na rede pública, a falta de infraestrutura, a desproteção em relação à indisciplina, as turmas excessivamente grandes e tem-se um quadro desalentador. Nestas condições, não é de admirar que os profissionais da educação se submetam à orientação equivocada de sindicatos corporativistas, que bloqueiam todas as tentativas de avanços e modernizações, como a avaliação por mérito.
Forma-se, assim, um ciclo vicioso: os melhores estudantes rejeitam a carreira do magistério (com exceções, obviamente), os professores saem da faculdade e levam um choque com a realidade das escolas, ganham pouco, não conseguem se aperfeiçoar e são cobrados pela má qualidade do ensino. Será que as pesquisas poderiam mostrar algo diferente?
Se o país quiser realmente evoluir na educação, terá que começar por devolver a decência à docência.

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