03 de abril de 2011
Educação no Brasil | Revista Época
Repetiu, mas não aprendeu
Antonio Milena/AE FRACASSO Alunos em uma sala de aula pública. A alta taxa de reprovação não melhora o desempenho |
reprodução/Revista Época |
Um estudo exclusivo mostra que reprovar não leva o aluno a melhorar seu desempenho Camila Guimarães
Poucas discussões têm sido tão acaloradas - e tão recorrentes - no Brasil quanto a que gira em torno da reprovação de alunos. No início deste ano, ela foi reanimada pela presidente Dilma Rousseff. Em um discurso sobre a educação no país, ela afirmou que está na hora de acabar com "essa trágica ilusão de ver aluno passar de ano sem aprender quase nada". Em dissonância com a presidente, o Ministério da Educação (MEC) recomendava o oposto: que os alunos não sejam reprovados até o 3º ano do ensino fundamental. Uma pesquisa obtida com exclusividade por ÉPOCA mostra que o MEC está mais perto da verdade.
Segundo o economista Ernesto Faria, fundador e coordenador do portal Estudando Educação, especializado em pesquisas educacionais, o Brasil já reprova demais - 36% dos alunos de 15 a 16 anos já tiveram alguma reprovação, segundo dados do Pisa, um teste internacional de educação. "A reprovação só seria justificável se a repetência gerasse condições para que o aluno obtivesse um aprendizado adequado", diz. "Mas ela não resolve as defasagens."
Faria avaliou os dados da Prova Brasil de alunos do 5º e 9º anos de escolas públicas. Em matemática, no 5º ano, apenas 9% dos que repetiram alguma vez nas séries iniciais têm um aprendizado adequado para a idade. Entre os que nunca repetiram, a taxa é de 33% (também baixíssima, mas quatro vezes maior que a outra).
Essa conclusão reforça a posição dos educadores que defendem a progressão continuada, sistema em que o aluno só pode ser reprovado ao final de um ciclo de aprendizado (e não a cada série). A ideia é que alunos com alguma carência têm mais chance de se recuperar se, no lugar da punição, for demonstrada confiança neles. Mas o sistema de ciclos só é adotado em cerca de 25% das escolas públicas.
O principal argumento contra os ciclos é que, sem o fantasma da reprovação, os alunos não têm estímulo. Grande parte dos professores cita ainda que, sem a ameaça de notas baixas, seria difícil manter a disciplina. A própria natureza dos argumentos mostra quão distante está a escola, principalmente a pública, do ideal de aprendizado: crianças automotivadas para explorar seu potencial, com professores que servem de guias, não capatazes.
Uma segunda linha de ataque aos ciclos é de outra natureza. Afirma que o sistema é mal aplicado, que não há condições de acompanhar os alunos deficientes com o cuidado necessário. Esse ponto faz mais sentido - e há experiências malsucedidas de sistema de ciclos no país para confirmá-lo. Mas melhorar a qualidade do ensino não é justamente criar as condições para acompanhar as crianças da forma mais individualizada possível? Não é avaliar, motivar e dar a cada uma as condições de aprender? Manter crianças que não aprenderam o suficiente na classe pode ser um estorvo. Reprová-las, na maioria das vezes, é - como mostra a pesquisa de Faria - desistir delas.
Poucas discussões têm sido tão acaloradas - e tão recorrentes - no Brasil quanto a que gira em torno da reprovação de alunos. No início deste ano, ela foi reanimada pela presidente Dilma Rousseff. Em um discurso sobre a educação no país, ela afirmou que está na hora de acabar com "essa trágica ilusão de ver aluno passar de ano sem aprender quase nada". Em dissonância com a presidente, o Ministério da Educação (MEC) recomendava o oposto: que os alunos não sejam reprovados até o 3º ano do ensino fundamental. Uma pesquisa obtida com exclusividade por ÉPOCA mostra que o MEC está mais perto da verdade.
Segundo o economista Ernesto Faria, fundador e coordenador do portal Estudando Educação, especializado em pesquisas educacionais, o Brasil já reprova demais - 36% dos alunos de 15 a 16 anos já tiveram alguma reprovação, segundo dados do Pisa, um teste internacional de educação. "A reprovação só seria justificável se a repetência gerasse condições para que o aluno obtivesse um aprendizado adequado", diz. "Mas ela não resolve as defasagens."
Faria avaliou os dados da Prova Brasil de alunos do 5º e 9º anos de escolas públicas. Em matemática, no 5º ano, apenas 9% dos que repetiram alguma vez nas séries iniciais têm um aprendizado adequado para a idade. Entre os que nunca repetiram, a taxa é de 33% (também baixíssima, mas quatro vezes maior que a outra).
Essa conclusão reforça a posição dos educadores que defendem a progressão continuada, sistema em que o aluno só pode ser reprovado ao final de um ciclo de aprendizado (e não a cada série). A ideia é que alunos com alguma carência têm mais chance de se recuperar se, no lugar da punição, for demonstrada confiança neles. Mas o sistema de ciclos só é adotado em cerca de 25% das escolas públicas.
O principal argumento contra os ciclos é que, sem o fantasma da reprovação, os alunos não têm estímulo. Grande parte dos professores cita ainda que, sem a ameaça de notas baixas, seria difícil manter a disciplina. A própria natureza dos argumentos mostra quão distante está a escola, principalmente a pública, do ideal de aprendizado: crianças automotivadas para explorar seu potencial, com professores que servem de guias, não capatazes.
Uma segunda linha de ataque aos ciclos é de outra natureza. Afirma que o sistema é mal aplicado, que não há condições de acompanhar os alunos deficientes com o cuidado necessário. Esse ponto faz mais sentido - e há experiências malsucedidas de sistema de ciclos no país para confirmá-lo. Mas melhorar a qualidade do ensino não é justamente criar as condições para acompanhar as crianças da forma mais individualizada possível? Não é avaliar, motivar e dar a cada uma as condições de aprender? Manter crianças que não aprenderam o suficiente na classe pode ser um estorvo. Reprová-las, na maioria das vezes, é - como mostra a pesquisa de Faria - desistir delas.
haha, desestimula o aluno a repetência? Isso é o fim, se não houver a repetência não existe disciplina. Simplesmente o problema da péssima educação não é a reprovação de alunos mal educados e desinteressados, mas sim a falta de material didático adequado nas escolas, laboratórios bem equipados e principalmente a falta de preparação e instrução, aliados aos baixos salários, dos professores.
ResponderExcluirMas é simples pro governo debater um caso como esse, tomar uma decisão que não envolve dinheiro, dinheiro esse que todos os brasileiros sabem para onde vai.
Também acho o fim ,não haver reprovação.O que irá segurar umaluno na escola senão houver reprovação;o interesse cairá por terra;eles não terão interesse pelos estudos ,muito menos em assistir as aulas.A criança que da 1 série passa sem saber ler,não consegue acompanhar a próxima série e ainda terá que enfrentar os novos conteúdos da nova série ,sem saber ler!Coitado do professor,que apesar de ganhar um salário miserável,terá que sevirar nos trinta ,com crianças totalmente diferenciadas dentro da sala de aula.É fácil falar,calcular índices disso e daquilo;mas quemvai pagar por este mexe,mexe dos governantes ,somos nós professores.
ResponderExcluirÉ brincadeira. Um aluno que foi reprovado está mais do que óbvio que ele é, técnicamente e educacionalmente, inferior ao aluno que nunca foi reprovado. Passar os alunos independete do que eles fizeram ou fizerem é no mínimo irresponsável. Como a educação é uma via de mão dupla, a não reprovação pode levar aquele aluno que estuda à desestimulação.
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