12 de janeiro de 2012

Decreto de Dilma afeta convênios da Cultura com setor audiovisual



Caravana de produtores ao Festival de Berlim e espaço Tempo Glauber estão entre os afetados

Medida presidencial foi tomada depois de escândalos com ONGs nas pastas do Turismo e do Transporte, em 2011ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
MATHEUS MAGENTA
DE SÃO PAULO
A ida de produtores brasileiros ao Festival de Berlim e um espaço dedicado a Glauber Rocha (1939-1981), no Rio, foram afetados por um decreto presidencial que suspendeu os repasses federais para entidades privadas sem fins lucrativos.
Publicado em setembro, o decreto de Dilma Rousseff tinha como objetivo moralizar a relação entre governo e parceiros, na esteira de suspeitas de fraude nos ministérios do Transporte e do Turismo.
Mas a ação criou um efeito dominó na Esplanada. Seis convênios com o Ministério da Cultura, que somavam mais de R$ 2 milhões, foram interrompidos (veja ao lado).
Segundo a pasta, eles não cumpriam exigências básicas do decreto -ser realizado há pelo menos cinco anos contínuos e ter a prestação de contas aprovada pelo MinC.
O programa Cinema do Brasil, que se dedica à divulgação da produção brasileira no mercado internacional, perdeu R$ 1,3 milhão.
Com isso, foi cancelado o subsídio (hotel, credencial e passagem) para que 30 produtores pudessem ir ao Festival de Berlim, em fevereiro.
O MinC diz que o convênio começou em 2006, mas teve um intervalo em 2008 -logo, quebrou-se a continuidade.
À frente do projeto, o cineasta André Sturm mostrou à Folhatroca de e-mails com a pasta naquele ano referente a um convênio estendido para 2007-2008. Segundo ele, a correspondência prova que o programa não foi paralisado.
GLAUBER ROCHA
O decreto atingiu também o Tempo Glauber, entidade fundada em 1983 para preservar a obra do cineasta.
Presidente da instituição, Paloma Rocha, filha de Glauber, diz que um repasse de R$ 200 mil chegou a ser previsto no orçamento do MinC, mas o dinheiro nunca veio. Depois, a parceria foi cancelada.
"Estou mantendo o local com dinheiro próprio. Se dependesse da Cultura, o centro estaria fechado agora."
Doze foram demitidos.
Outro projeto afetado foi o fórum de debates do Instituto Cultural Cinema Brasil. Criado em 1996, o projeto reúne mais de 2.000 pessoas, como o diretor Roberto Farias ("Assalto ao Trem Pagador").
Segundo Marcos José Marins, presidente do instituto, a nota de empenho de R$ 50 mil foi cancelada por atraso da última prestação de contas do convênio devido a um problema no site do MinC.
Procurada sobre esse ponto, a pasta não respondeu.
A "Revista de Cinema" não será produzida neste bimestre pois o convênio de R$ 100 mil, realizado há oito anos, foi suspenso após o decreto.
Isso porque, segundo Julie Tseng, diretora do projeto, o MinC atrasou a aprovação da última prestação de contas.
"Há um bocado de coisa errada, mas a gente, que faz tudo direito, foi prejudicado."
O ministério diz que a "análise de prestação de contas não foi finalizada".

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