1 de janeiro de 2012

Educação no Nordeste


01 de janeiro de 2012
Educação no Brasil | Correio Braziliense | Capa | BR
 Educação
O Nordeste
concentra as
32 cidades do país nas quais pelo
menos 25% da
população acima dos 15 anos não sabe ler ou escrever e
onde não há
turmas destinadas
a jovens e adultos

Renata Mariz
Luiz Ribeiro
Brasília e Miravânia (MG) - Jornada pesada de trabalho, cuidado com os filhos, falta de dinheiro para o transporte ou um certo constrangimento de ocupar o banco escolar depois de crescidos são algumas das razões que impedem adultos analfabetos de aprender como letras se juntam e formam palavras. Vencer tais barreiras, porém, não significa garantia de conhecer o mundo letrado. Embora o Programa Brasil Alfabetizado, lançado em 2003, tenha estabelecido abertura de turmas de educação para jovens e adultos (conhecidas pela sigla EJA) em todos os municípios onde 25% ou mais da população ignoram o alfabeto, há 32 cidades nessa situação, sem qualquer classe funcionando. Nesses locais, mesmo com muita força de vontade, os habitantes dificilmente aprenderão a ler.
Miravânia, município de 4,7 mil habitantes a 711 quilômetros de Belo Horizonte, faz parte da porção brasileira fadada ao analfabetismo. Enquanto a oferta de turmas não chega, a lavradora Maria da Conceição Leite, conhecida como dona Bia, lamenta ter deixado a escola quando criança. "O meu pai era muito pobre e eu tinha que cuidar dos irmãos mais novos. Por isso, não pude estudar", diz a senhora de 53 anos. Ela lembra que chegou a frequentar, depois de adulta, uma classe de alfabetização no município que funcionou por pouco tempo. "Fui às aulas por uns três meses. Mal aprendi a assinar o nome", diz a lavradora, integrante de uma família de 12 irmãos e mãe de oito filhos.
Edwirges Ferreira de Faria, 48 anos e mãe de 10 filhos, teve trajetória parecida. Evangélica, ela conta que tem vontade de poder orar acompanhando a Bíblia, mas mostra um desânimo característico dos adultos analfabetos. "Para a pessoa que já é velha de idade, acho que não dá para estudar mais", afirma.
"Os adultos analfabetos precisam de um incentivo a mais para estudar. Mas, nos lugares mais carentes, muitos projetos são travados por questões políticas. Para alguns políticos, é mais interessante que as pessoas continuem analfabetas para não haver liberdade da reivindicação do exercício da cidadania e dos seus direitos", critica Ivanir Barbosa de Oliva Silva, que desenvolve trabalho de articulação com associações comunitárias de Miravânia. Ela destaca que uma turma chegou a ser iniciada no município, mas não seguiu adiante. A alegação da prefeitura, segundo a professora, foi o custo elevado. A Secretaria Municipal de Educação e a Prefeitura não retornaram o contato da reportagem.
Falta de interesse político, sem dúvida, é um problema generalizado dos governos locais na hora de promover a alfabetização e a continuidade dos estudos de adultos, afirma Roberto Catelli, coordenador do programa de EJA da Ação Educativa, entidade que promove cursos. Ele destaca que, aliada ao pouco interesse de gestores públicos, está a dificuldade em localizar a demanda por alfabetização. "Ela não é explícita como no caso de crianças fora da escola. Você precisa mobilizar o adulto para que ele queira estudar. Então, o Censo 2010 vem em boa hora, até para romper com o argumento de muitos prefeitos de que não têm demanda para esse tipo de programa. Ora, o Brasil tem milhares de pessoas sem o ensino fundamental, e em qualquer lugar há demanda", diz o especialista.
Tão difícil quanto mobilizar analfabetos que já passaram da idade escolar é mantê-los nas classes. Não por acaso, a média de evasão na educação de jovens e adultos, segundo o Ministério da Educação, é de 40%. "Esse aluno se sente constrangido em voltar aos estudos após anos de ausência. Por isso, o conteúdo deve ser adequado, agregando valor a sua vida", explica Ophelis Françoso Júnior, editor executivo de EJA de uma famosa editora, que desenvolve material didático para as turmas de adultos. Para mantê-lo no banco escolar, completa Catelli, além de livros e abordagens adequadas, é preciso investimentos em áreas não necessariamente ligadas ao tema da educação de adultos, mas que têm grande impacto sobre ela. "Um transporte eficiente e seguro, por exemplo, e creches para os filhos dos alunos." Recursos federais
Questões culturais, sociais e econômicas de cada município, segundo o Ministério da Educação (MEC), influenciam na alfabetização de adultos e idosos no Brasil. A pasta enfatiza que a abertura de turmas do Programa Brasil Alfabetizado se dá por meio de adesão de governos estaduais e prefeituras, que recebem recursos federais para implantar as classes. "É uma ação de corresponsabilidade entre governos, em que cada ente possui seu foco de atuação e atribuições", disse o MEC, em nota. Em 2010, segundo a pasta, o Brasil Alfabetizado atendeu 1.814.522 pessoas com 15 anos ou mais. Em 2011, 26 estados e 1.336 municípios foram incorporados ao programa, dos quais 329 já têm a adesão concluída e os demais, em análise. A meta prevista é atender aproximadamente 2,5 milhões de pessoas. No Brasil, são quase 14 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais.
Ensino inexistente
A Bahia tem presença maciça na relação das 32 cidades brasileiras sem oferta de EJA, embora essas localidades apresentem índice de analfabetos igual ou maior que um quarto da população adulta. O pior indicador, entretanto, está no Rio Grande do Norte. A cidade João Dias tem 38,9% dos moradores com 15 anos ou mais sem saber ler ou escrever. Da Região Norte, há três municípios situados no Tocantins. No Sudeste, cinco cidades de Minas Gerais figuram na lista. A maior parte, entretanto, é do Nordeste.

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