23 de janeiro de 2012

A maldicão do petróleo: a violencia en Macae, Veja


22 de janeiro de 2012
Revista Veja Rio | Segurança | RJ








Com favelização crescente, a enriquecida e problemática Macaé é alvo da primeira ocupação no modelo das UPPs fora da capital
O barulho de obra é trilha sonora permanente em Macaé. De prédios comerciais a condomínios de luxo à beira-mar, impressiona a quantidade de empreendimentos em construção no município do norte fluminense distante 200 quilômetros da capital. Chamam atençäo também as cifras envolvidas. Algumas unidades chegam a custar 3 milhões de reais, preço compatível com o de bairros valorizados do Rio. Quem tem cacife para tanto? Os altos funcionários da indústria petroleira, atividade responsável por uma guinada na vida dessa cidade. Desde que, na década de 70, a Petrobras começou a extrair o ouro negro em seu litoral, Macaé ganhou um enorme empuxo economico. É o segundo município do país que mais arrecada com royalties, uma compensaçao pelos riscos da exploração. No ano passado, seus cofres receberam 480 milhoes de reais.
Um privilégio, sem dúvida, mas que apresenta também uma contrapartida preocupante. Por negligencia do poder público, faltou planejamemo urbano eficaz para dar vazão à grande migração de mão de obra. O município assistiu impassível ao estouro populacional e suas consequemes mazelas, entre as quais a favelizaçäo e a violência. Assim, com exceção da Região Metropolitana, Macaé se tornou o ponto mais problemádco para o seter de segurança pública estadual.
Há duas semanas, o município protagonizou cenas típicas da metrópole ao virar alvo de uma grande operaçao policial para reprimir o tráfico de drogas nas favelas de Nova Holanda (homônima da carioca), Nova Esperança, Malvinas e Botafogo, situadas a apenas 1 quilômetro do epicentro comercial da cidade. Foi o desfecho de uma intervençäo iniciada no ano passado, que contou com a participação de agentes civis, militares e federais. A açäo segue o modelo das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), com a ocupação permanente da região.
"A única diferença para as UPPs é que os policiais comunitários não serão recém-formados", destaca o tenente-coronel reformado Edmilson Jório, coordenador do Gabinete de Gestão Integrada daquele município.
Resultado de uma equação que leva em conta a abastança financeira e o crescimento desordenado, Macaé replica os contrastes frequentes nas grandes aglomerações urbanas (veja o quadro ao lado). Seus índices são extremos, seja para o bem, seja para o mal. Encaixam-se nesse segundo caso os números relativos à segurança. De acordo com o Mapa da Violencia divulgado na terça passada pelo instituto de pesquisas Sangari em parceria com o Ministério da Justiça, ocorrem no município 51 homicídios anuais para cada grupo de 100000 habitantes, mais que o dobro do número registrado na capital. A comparaçåo fica ainda pior se levarmos em consideração o último ano. Enquanto houve uma queda significativa nesse tipo de crime no Rio, em Macaé, ao contrário, ele cresceu.
O panorama negativo atinge principalmente as favelas, onde vive mais de um quinto da populaçäo local, calculada pelo IBGE em 210000 habitames, mas estimada pela prefeitura em cerca de 370000. Quando a Petrobras se instalou ali, o lugar não passava de um sossegado balneário com 34000 pessoas, na maioria de famílias de pescadores. A descoberta de óleo na camada pré-sal, que pode levar as reservas brasileiras a dar um salto de 13 milhoes para 80 milhoes de barris, causa expectativa sobre como reagirá Macaé a mais essa previsível enxurrada de dinheiro e gente. Caso não sejam mudadas drasticamente as regras de repartição dos royalties, estima-se que a cidade receberá nos próximos cinco anos mais 70000 moradores, a esmagadora maioria sem a qualificação necessária para se empregar no ramo petrolífero. A possibilidade de o ciclo perverso se intensificar virou um pesadelo para os governantes. "Meus antecessores não entenderam o processo", afirma a atual prefeita, Marilena Garcia, do PT.
Para evitar novos problemas, foi criado o projeto Planejando Macaé, que visa ao reordenamento urbano por meio de grandes obras. Com o objetivo de repensar a cidade, foi contratado,o arquiteto curitibano Jaime Lerner. Unico vereador da oposição, Danilo Funke mostra ceticismo com relação ao futuro "A pujança economica näo foi acompanhada de desenvolvimento social", diz ele. "Essa história de eldorado é pura ilus50. Reverter o quadro será difícil." Não é tuo complicado assim. Basta aplicar corretamente a fortuna proporcionada pelo petróleo. Dinheiro não pode ser problema. A falta dele, sim. CAIO BARRETO BRISO

Nenhum comentário:

Postar um comentário