6 de maio de 2012

CLÓVIS ROSSI :Viva o crescimento. Mas como?



Crescer entrou na agenda europeia, mas falta acordo sobre a maneira de chegar a isso
PARIS - Crescimento é a nova palavra mágica na Europa, em grande parte graças à perspectiva de vitória de François Hollande, com seu mantra de que vai propor um adendo pró-crescimento ao pacto fiscal de março, que só tem a perna da austeridade.
Até Angela Merkel, a chanceler alemã e rainha-mãe da austeridade, já anda falando em "agenda do crescimento". Tudo resolvido, então? Nem remotamente.
É como diz a "Economist" que está nas bancas: "Pedir crescimento é como advogar pela paz mundial; todo o mundo concorda que é uma coisa boa, mas ninguém concorda em como fazê-la".
Para Hollande, parece claro que o crescimento viria de estímulos públicos de diferentes formas, em especial com recursos do Banco Europeu de Investimentos, com o que Merkel está de acordo.
Como os países europeus não estão exatamente nadando em dinheiro para poderem alocar recursos para o BEI, a ideia é a de aproveitar o que há nos cofres para alavancar investimentos do setor privado.
É pouco, no entanto. Economistas franceses desenvolvimentistas defendem que "o crescimento só tem chance de se concretizar se a consolidação [equilíbrio] orçamentária não for nem imediata nem drástica", escrevem, por exemplo, Jean-Luc Gaffard et Francesco Saraceno, do Observatório Francês de Ciências Econômicas. Ou seja, querem mais tempo e menos rigor na aplicação da austeridade.
Não é uma ideia apenas acadêmica: na semana passada, o jornal grego "Ta Nea" (As Notícias) informava que o governo local já estava em negociações com os credores internacionais para adiar por um ano a consecução das metas de médio prazo para redução do deficit.
Não passa pelo crivo da Alemanha: Wolfgang Schäuble, o poderoso ministro de Finanças, diz que "a consolidação orçamentária é não somente necessária mas é necessária para um fim preciso: gerar crescimento durável, que é o melhor meio de gerar emprego".
O ministro alemão está apenas repetindo a canção favorita da ortodoxia: contas públicas saneadas trarão de volta a confiança dos mercados nos países em crise e, com ela, virá o crescimento e, por extensão, a queda do desemprego.
O presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mario Draghi, que surpreendeu meio mundo ao defender, ele também, um pacto pelo crescimento, explicou dias depois o que entende ser necessário para o crescimento. É o mesmo que Schäuble: "Mesmo que os ajustes orçamentários pesem sobre o crescimento a curto prazo, eles contribuirão para a saúde das finanças públicas e, assim, para a redução dos prêmios de risco [sobre os empréstimos dos Estados]".
Draghi defende também mexer no mercado de trabalho de forma a lhe dar mais flexibilidade, no pressuposto, jamais provado, de que quanto menos proteção social o trabalhador tiver, mais o empregador estará disposto a contratar.
Tudo somado, fica evidente que Gaffard e Saraceno têm razão ao dizer que "o crescimento não se decreta nem se estabelece instantaneamente, ao contrário da espiral deflação-austeridade na qual se atolam mais e mais países europeus".

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