11 de maio de 2012

O trabalho compensa: Ex-menores infratores veem no Degase uma chance de não voltar para o crime

Extra online, maio 11,2012


Nascida em 1992, no Ceará, Michelle Félix veio para o Rio de Janeiro ainda bebê. Aos 13 anos, sua mãe, dona de casa, teve um surto e ateou fogo à casa, o que a fez ir morar com as tias, na Rocinha. Três anos depois, conheceu um cozinheiro e se casou. Mas o rapaz recebeu uma proposta para trabalhar embarcado num cruzeiro. Sozinha, a menina, de 17 anos, acabou se envolvendo com o crime e, numa viagem a São Paulo, foi presa.
Michelle cumpriu quase dois anos de medida socioeducativa, fez cursos de comunicação e hoje é apresentadora da TV Novo Degase - um dos projetos mantidos pelo governo do estado para qualificar e ocupar os adolescentes que já passaram pela instituição e evitar que eles voltem a cometer crimes.
- No meu caso, não cheguei nem a entrar para o crime, porque fui presa antes. Hoje, há muito mais oportunidades de trabalho e de estudo para todo mundo. Quem quer consegue seguir o caminho direito, longe do lado errado - opina a aspirante a jornalista.
Com a dívida paga com a Justiça, Michelle foi contratada como monitora da TV e recebe R$ 600 por mês. Ainda grava matérias dos programas que vão ao ar no canal online. Há duas semanas, a jovem foi até o Morro Santa Marta, em Botafogo. Mesmo só falando português, deu um jeito de entrevistar o violinista austríaco Julian Rachlin, que foi ensinar música clássica a crianças da favela.
Mão firme
Com gloss transparente, lápis de olho, sombra discreta, unhas cor de rosa no estilo francesinha, Michelle não se intimidou durante a matéria. Mesmo tendo chegado quase duas horas atrasada, ela segurava firme o microfone nas perguntas ao músico, ajudada por um tradutor.
- O trabalho desses meninos (da TV Novo Degase) é maravilhoso. E a Michele é comunicativa, se vira bem - orgulha-se o diretor do projeto, Charles Alexchaivike, que acompanha a menina durante as filmagens.
Atualmente, são 11 alunos, que aprendem produção, roteiro, filmagem e fazem as reportagens. Ainda é pouco. Mas é uma tentativa de não deixá-los migrarem para o crime. Segundo pesquisa da Secretaria estadual de Assistência Social, mostrada ontem na série "O trabalho compensa", 26% dos jovens de 15 a 29 anos nas favelas pacificadas não têm emprego nem estudo (veja entrevista com a coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay).
Sempre acostumado a tirar o conceito MB (muito bom) nas provas de Matemática, Victor Ferreira Jorge, de 11 anos, quebrou a rotina e levou um B (bom) no último teste. Preocupada, a mãe do menino o obrigou a frequentar as aulas de reforço do Centro de Referência da Juventude da Cidade de Deus. Agora, em vez de ver televisão, Victor tem aulas de operações com frações às segundas, quartas e sextas.
-Minha mãe quer que eu volte a tirar MB. Então, venho aqui e ainda estudo em casa - esforça-se o jovem.
Como Victor, outros cinco mil jovens são atendidos por um ano cada um dos nove centros do Rio. Além de reforço escolar, há oficinas de arte, música, esporte e qualificação profissional.
Apoio e orientação
A proposta do governo do estado, impulsionada pelo empréstimo de R$ 70 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), é ampliar esses locais. E criar grupos de aconselhamento e tutoria, com apoio psicológico, jurídico e orientações profissionais.
A capacidade de atendimento será de 40 mil jovens entre 15 e 29 anos. A prioridade são aqueles em situações de vulnerabilidade social: os que cumprem medidas socioeducativas, tiveram ligação com o tráfico ou foram dependentes químicos.

Um comentário:

  1. Caro Sr. Werthein, muito obrigado pelo apoio a este trabalho no teu blog, toda vez que a sociedade livre fala destes jovens mais chances eles tem de tornarem reais seus novos projetos de vida, assim que puder faça-nos uma visita na Ilha do governador - RJ (2334-6675)

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