4 de abril de 2013

Professor da rede estadual de São Paulo falta, em média, 27 dias por ano


Número de ausências totaliza mais de 10% do total de 200 dias letivos que cada escola é obrigada por lei a cumprir; dados são da Secretaria Estadual da Educação

03 de abril de 2013 | 23h 40

Davi Lira - O Estado de S.Paulo
Em média, cada um dos 230 mil professores da rede estadual de ensino de São Paulo faltou 21 dias de aulas no ano passado utilizando licença-saúde. Contabilizando os 6 dias extras de faltas abonadas que têm direito, a quantidade de ausências por ano chega a 27 dias. O número representa mais de 10% do total de 200 dias letivos que cada escola é obrigada a cumprir por lei.

Cleumir Rufini: perícia após fim de conjuntivite - Tiago Queiroz/Estadão-2/7/2010
Tiago Queiroz/Estadão-2/7/2010
Cleumir Rufini: perícia após fim de conjuntivite
Sem a presença do principal condutor do processo pedagógico, os alunos deixam de aprender o conteúdo devido, já que não há um controle total da substituição da aula no dia da ausência nem da reposição em outro momento, tanto pela imprevisibilidade da falta quanto pela deficiência no planejamento dos gestores. É o que afirmam especialistas.
Os dados sobre faltas a que o Estado teve acesso foram obtidos da própria secretaria, por meio da Lei de Acesso à Informação, e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), após solicitação da reportagem. Atualmente o órgão tem um inquérito aberto que investiga o gerenciamento de perícias na concessão de licenças médicas dos professores (mais informações nesta página). O número representa uma amostra das ausências durante os meses de março a agosto de 2012 - os mais atualizados sob análise no MP-SP.
"A ausência é prejudicial, não tenho a menor dúvida. Você tem duas ausências: a por motivo pessoal ou de saúde, e a outra pela questão de não ter professores na rede", diz Herman Voorwald, secretário estadual de Educação. No entanto, segundo ele, é preciso "relativizar" qualquer análise dos números da rede de São Paulo. "Somos uma rede complexa. São quase 5,6 mil escolas e mais de 5 milhões de crianças", diz Voorwald.
O aumento da carga horária e a presença de muitos alunos numa mesma sala causam problemas de saúde como estresse, pressão alta e obesidade - principais causas das licenças -, afirma Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp, sindicato dos professores de São Paulo. "O professor já não aguenta mais."
Para Fernanda Campagnucci, do Observatório da Educação, não existe uma diretriz "muito clara do Estado sobre o que fazer quando o professor falta ou adoece" para que o aluno tenha garantido o direito à aprendizagem.
O fato é que, quando a substituição da aula não ocorre devidamente, o aluno é o maior perdedor. "Temos de decidir se o sistema educacional é para o professor ou para o aluno", diz presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Araujo e Oliveira.
O professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse propõe a criação do "bônus fixação" para reduzir as faltas. "A secretaria poderia dobrar o salário daquele professor que ficar 5 anos nas escolas mais problemáticas", sugere. Voorwald é contra. "Isso para mim desvirtua totalmente a carreira do educador", diz
Consultada, a secretaria afirma que "a análise é equivocada". O órgão diz que "trabalha com números de registros de licenças ou faltas e não com números de docentes. Ou seja, um mesmo profissional pode ter mais de um registro de licença ou falta". Além disso, a pasta informa que o pagamento do bônus anual por resultado é diretamente afetado pelas faltas e a reposição das aulas é feita por 2 mil professores eventuais.


Baixo valor da hora-aula explica falta, diz sindicato

Condições de trabalho precárias e contratos temporários também justificariam ausências

04 de abril de 2013 | 0h 35
Davi Lira - O Estado de S.Paulo
Deficiências nas condições de trabalho, baixa remuneração, problemas na infraestrutura das escolas e existência de muitos professores com contratos de trabalho temporários são algumas das dificuldades enfrentadas pelos docentes da rede estadual de São Paulo, segundo quatro entidades de classe consultadas pelo Estado. De acordo com os sindicados, essas questões têm relação direta com a ausência dos docentes, problema também considerado "grave e prejudicial à educação" pelas entidades.

O valor da hora-aula recebida pelo docente da rede estadual, em torno de R$ 9, é um motivo que justifica a ausência do professor. É o que afirma José Maria Cancelliero, presidente do Centro do Professorado Paulista (CPP) - entidade que possui mais de 100 mil associados.
"Se ele é do bairro de Santana (zona norte) e tiver de dar uma aula em São Miguel Paulista (zona leste), ele já gasta duas conduções. Muitas vezes não compensa, e como ele não tem concorrente, não será substituído por nenhum outro professor", afirma Cancelliero.
Segundo o CPP, enquanto o piso para 40 horas na rede municipal é de R$ 2,6 mil, nas escolas estaduais vai de R$ 1,8 mil (anos iniciais do fundamental) a R$ 2.088 (anos finais e ensino médio). Os valores variam de acordo com a formação do docente.
Com esses salários, não faltam exemplos de professores que chegam a dar aula em até três escolas, diz Neli Cordeiro, presidente do Apase, sindicato dos supervisores. "Eles peregrinam. Dar aulas em mais de uma escola torna a atividade ainda mais desgastante", diz Neli.
O déficit de professores, também é alvo de críticas. "Não é que eles faltam, o problema é que faltam professores", afirma Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp, o sindicato dos professores da rede estadual.
Segundo ela, existem alunos que nunca tiveram aulas de física, química ou biologia com educadores com formação devida nas respectivas áreas. "Quem dá aula são professores de disciplinas afins", afirma Maria Izabel.
No ano passado, Jennifer Santos, de 15 anos, então aluna do 1.º ano do ensino médio da escola estadual Roberto Mange, na zona sul da capital, não teve aulas de química. "A professora ficou de licença duas vezes, depois deixou de ir. Todos os dias que tínhamos aulas de química, saíamos mais cedo. No final, todo mundo passou, sem ter feito nenhuma prova", diz Jennifer.
Neste ano, a aluna enfrenta mais problemas. "Não tenho professora de português. Ela abandonou as aulas. Nem de sociologia", diz a jovem.
O regime de contratação é outro agravante, dizem as entidades sindicais. No Estado, são quase 35 mil docentes temporários.
Todos essas questões têm relação com a falta de atratividade da atual da profissão, afirma Francisco Antônio Poli, presidente do Udemo, o sindicato que representa os diretores de escolas. "A pergunta hoje é: quem quer ser professor? A resposta é: o idealista, ou aquele que não tem outra opção", diz Poli. Ele sugere uma maior participação dos pais na escola para amenizar os problemas das faltas dos professores.
Sobre a suposta superlotação de alunos nas aulas, a Secretaria Estadual de Educação informa que em mais de 60% das classes a média de alunos é inferior a 40 estudantes. À respeito do salário, a pasta explica que o valor repassado aos anos finais do fundamental, por exemplo, ultrapassa em 33% o piso nacional.
O Idesp, índice que mede a qualidade da educação no Estado, caiu de 2,61 em 2011 para 2,59 no ano passado.

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