3 de maio de 2012

Censo de problemas


EDITORIAIS
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Dados detalhados do IBGE confirmam o retrato de um país que se acomoda com crescimento da economia como solução para tudo

As melhorias sociais e econômicas e a tranquilidade política dos anos 2000 parecem ter eliminado o sentido de urgência diante das carências brasileiras: de educação, de renda, de saúde, de segurança -entre tantos problemas sociais.
Ouve-se o louvor uníssono do crescimento, como se ele, por si só, resolvesse toda a iniquidade. Lamenta-se a mediocridade da educação, em especial na falta de mão de obra qualificada, mas não se vê pressa nem inventividade nas providências para melhorar a escola.
A mais recente publicação dos dados detalhados do Censo 2010 evidencia quão incivilizado ainda é o Brasil. No país da "nova classe média", em mais de 28% das casas a renda mensal por pessoa não passava de meio salário mínimo: R$ 8,50 por dia, o valor de algumas passagens de ônibus. No Nordeste, em 48,4% dos domicílios ela ainda era inferior a isso.
Na idade de cursar ou concluir o ensino médio, 1 em cada 6 jovens de 15 a 17 anos estava fora da escola. Metade dos brasileiros com mais de 25 anos fazia parte do grupo de pessoas sem instrução, ou não havia completado o ensino fundamental (oito anos de estudo) -pessoas que dificilmente chegariam ao ensino secundário.
Já foi pior, costuma-se dizer: em 2000, eram 64% os maiores de 25 anos que tinham menos de oito anos de estudo.
A mortalidade infantil caiu pela metade em uma década. Um feito notável, mas em 2010 era ainda o dobro da americana, ou o quádruplo da registrada na Europa ocidental.
A taxa de fecundidade média declinou a níveis escandinavos. É como se boa parte da população tivesse tomado a iniciativa de racionalizar o uso de seus recursos escassos tendo menos filhos. Sem contar com serviços públicos de qualidade para as crianças, resta a opção de reduzir seu número e investir mais em cada uma delas.
O país que começa a envelhecer pode se tornar maduro sem ter ido em massa à escola. Está à beira de chegar ao período demográfico mais favorável ao progresso econômico e social, aquele em que há mais trabalhadores por crianças e idosos, sem que o trabalho seja qualificado e produtivo o bastante para permitir que a economia dê um salto definitivo para o grupo das nações desenvolvidas.
Os avanços suscitam um clima de autoindulgência, de descaso com mudanças institucionais, de conforto na banalidade das pequenas vitórias. Um consenso acomodatício em torno dos paliativos e da falta de imaginação política e social, seja na oposição, seja no governo liderado pelo PT.

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