12 de maio de 2012

HÉLIO SCHWARTSMAN: Celebridades e fofocas



SÃO PAULO - Mais do que CPI, eleições francesas e crise europeia, o assunto que dominou a semana foram as fotos de Carolina Dieckmann nua que circularam na internet. É verdade que a moça é bonita, mas como explicar que milhares de pessoas se dediquem a fofocar sobre a vida privada de alguém que nem conhecem? Em suma, por que nos interessamos por celebridades?
Satoshi Kanazawa, da London School of Economics, tem uma hipótese interessante. Para ele, da mesma forma que a pornografia usurpa um comportamento evolutivamente útil para o homem (excitar-se diante de mulheres peladas) sem conferir-lhe nenhuma vantagem reprodutiva, celebridades sequestram nossa disposição natural de fazer mexericos sobre nossos conhecidos.
A diferença é que, enquanto coscuvilhar acerca de familiares e amigos pode nos levar a obter informações úteis, escarafunchar a vida de alguém com quem jamais interagiremos é perda de tempo. Nossa obsessão com celebridades seria, assim, ao lado da obesidade e do vício em drogas, resultado de um descompasso entre os nossos cérebros da Idade da Pedra e o mundo moderno.
Vale observar que o valor adaptativo da fofoca sobre conhecidos não se limita a obter dados potencialmente valiosos. A bisbilhotice ajuda a reforçar os vínculos sociais. Robin Dunbar, do University College, de Londres, mostra que humanos dedicam 60% do tempo de suas conversações a futricas. Segundo o antropólogo, com o advento da linguagem, mexericos substituíram a catação de piolhos que, entre primatas, constituíam a principal atividade social. Passamos a usar o fuxico para nos relacionar com os semelhantes e definir quem era ou não confiável, e, a partir daí, forjar alianças e coalizões.
Por muito tempo desprezada pela ciência, a fofoca está ganhando um novo status. Já é considerada uma formidável arma política, capaz até de derrubar tiranos.

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