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editoriais@uol.com.br, Maio 12,2012A presidente Dilma Rousseff anunciou os sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, criada para investigar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988. O colegiado foi instituído por legislação sancionada em novembro de 2011, juntamente com a Lei de Acesso à Informação (que passa a vigorar na próxima quarta-feira). Em conjunto, os dois diplomas representam um aprimoramento institucional valioso, que assegura e amplia o acesso da sociedade a dados sob a guarda do poder público. Era previsível que a Comissão da Verdade despertasse reações de setores das Forças Armadas apreensivos com a perspectiva de mais revelações sobre a prática de tortura e assassinatos políticos durante a ditadura militar (1964-1985), período que deverá ser privilegiado nas investigações. Alertas contra o "revanchismo" e temores quanto à revisão da Lei da Anistia têm marcado as manifestações contrárias ao reexame dos fatos. A lei é clara, entretanto, ao prever que as atividades da comissão "não terão caráter jurisdicional ou persecutório". Tampouco dá margem ao questionamento da Lei da Anistia, um dos pilares que asseguraram a transição da ditadura para o mais bem-sucedido regime democrático conhecido pelo país. Antes de uma regra imposta, a anistia ampla teve a dimensão de um pacto que permitiu à sociedade, em nome de um futuro mais harmonioso, superar a dolorosa cisão que a marcara por duas décadas. Esse ânimo conciliador, que alguns insistem em ver como sinal de fraqueza, evitou que o Brasil, ao contrário de outras nações, prolongasse conflitos e aprofundasse feridas, com prejuízo à consolidação de uma nova fase da vida nacional. Isso não significa que se deva colocar uma pedra sobre a história. Os brasileiros têm direito ao esclarecimento dos abusos e das violações ocorridos no passado, cometidos pelos dois lados em conflito. Dentro dos limites impostos pela lei, que sabiamente estabeleceu restrições e teve a precaução de estipular o caráter pluralista do colegiado, a presidente Dilma Rousseff optou por uma solução equilibrada, com nomes de um modo geral mais comprometidos com a perspectiva de Estado do que com visões de governos ou partidos. Do ponto de vista ideológico, os indicados distribuem-se equanimemente pelo espectro das forças protagonistas da democratização, com maior ênfase, como seria de esperar, para tucanos e petistas, sem excluir completamente a presença de uma visão mais conservadora. Se cabe algum reparo, é ao título da comissão -que sugere a pretensão de revelar uma verdade unívoca, quando toda narrativa histórica está sujeita a controvérsia. |
12 de maio de 2012
Comissão da Verdade
Postado por
jorge werthein
às
08:01
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