O Brasil parece solidamente enquadrado na categoria dos que nunca deixarão de ser emergentes
Por fim, um economista demole, pedra por pedra, as previsões de seus pares sobre o futuro do mundo. Chama-se Ruchir Sharma, é o chefe de mercados emergentes e de macroeconomia global da Morgan Stanley e escreveu um belo artigo para o número que está entrando em circulação da "Foreign Affairs" (www.foreignaffairs.com só para assinantes).A grande vantagem do artigo é que Sharma não substitui os palpites alheios pelos seus próprios para demonstrar que aqueles eram equivocados. Apenas alinha os erros que comumente cometem os previsores, que ele elegantemente chama de "forecasters", em vez de palpiteiros, o que de fato são.
Não dá para resumir o artigo, mas vale citar dois erros. O primeiro deles é o fato de que os palpiteiros pararam de olhar os países como histórias individuais e passaram a tratá-los como "pacotes sem rosto", escondidos em acrônimos atraentes "mas sem sentido".
Se você acha que ele está se referindo aos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), acertou. Não se trata de um bloco que atua coordenadamente e marcha ao mesmo passo, mas de um grupo de países com histórias, instituições, políticas e economias muito diferentes.
Portanto, prever, como fez Jim O' Neill, o inventor do acrônimo, que os Brics se tornariam as potências mundiais dominantes até 2020 era namorar com o engano. Pode até ser que a China vire a maior potência do mundo dentro em breve, mas, se o fizer, não será de mãos dadas com qualquer dos outros Brics.
Segundo erro comum: olhar pelo retrovisor e acreditar que a estrada que ele mostra se manterá idêntica daí em diante. Escreve Sharma: "Autores de previsões assumem que tendências recentes continuarão indefinidamente e que economias quentes continuarão quentes, ignorando a natureza cíclica inerente tanto ao desenvolvimento político como ao econômico". Prossegue: "Euforia sobrepujou julgamento sólido --um processo que condenou previsões econômicas desde que elas passaram a ser feitas".
Até aqui, é um problema apenas para economistas e para os que acreditam nas suas previsões. Passa a ser problema de todos os brasileiros se se levar em conta que o governo Dilma Rousseff parece estar cometendo, desde o princípio, erro similar.
Ou seja, dá a impressão de que a presidente e os responsáveis pela área econômica olharam para 2010, o ano de espetaculares 7,5% de crescimento, e acreditaram que a economia daquele ano continuaria quente pelos séculos dos séculos.
Deu no que está dando. Pior: a lógica política indica que, em havendo, como há, pleno emprego e aumento da renda, a sensação de bem-estar do eleitor não combina com o pessimismo de analistas e agentes de mercado, mas combina com o voto no governo --o que tira qualquer estímulo para mudanças.
Se é assim, o Brasil continuará a ser para sempre um mercado emergente, mas não emergirá de fato. Aliás, o título do artigo de Sharma é precisamente "The Ever-Emerging Markets", que, em tradução livre, daria "Emergentes para sempre".
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