O Brasil incluiu estudantes das camadas mais pobres. O desafio é incluir com qualidade, oferecendo mais recursos para os que estão em desvantagem
O que significa o Brasil ocupar o 58º lugar entre os 65 países avaliados pelo Pisa (programa internacional de avaliação de alunos) em 2012?
Há várias interpretações. A conclusão geral é que não estamos nada bem, apesar dos avanços, e aquém do que precisamos para oferecer uma educação para a participação cidadã e a inserção no mundo produtivo. Avançamos somente em um ponto de 2009 a 2012 --um resultado pífio para uma economia emergente do tamanho do Brasil.
Nas últimas décadas, o país passou a preocupar-se com o mapeamento de dados sobre escolas, alunos e resultados. Em que pesem as críticas às avaliações de larga escala e às comparações de países com realidades socioeconômicas distintas, preocupa o fato de a maioria de nossos alunos apresentar os piores níveis de proficiência em matemática, ciências e leitura.
Segundo o Pisa, esses dados podem ser atribuídos ao fato de o Brasil ter incluído no sistema escolar os adolescentes que estavam fora da escola. Entre 2003 e 2012, a taxa de matrícula dessa faixa etária subiu de 65% para 78%, ou seja, foram incluídos as crianças e adolescentes das camadas mais pobres.
O relatório ressalta que as crianças cujos pais têm maior expectativa em relação aos seus resultados educacionais apresentam melhor desempenho. Estudo desenvolvido pelo Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) desmistifica o senso comum segundo o qual as famílias das camadas populares dão pouco valor e manifestam pouco interesse pela escola.
A pesquisa leva à conclusão de que as famílias pobres, em especial as mães, depositam grandes expectativas e se esforçam, com os recursos que possuem, para assegurar a escolarização dos filhos.
Os resultados do estudo apontam que as políticas educacionais precisam reconhecer os esforços dessas famílias e desenvolver estratégias específicas que minimizem o efeito negativo do território no desempenho educacional das crianças, adolescentes e jovens residentes nos locais vulneráveis.
O desafio que se coloca é incluir com qualidade. Isso só será possível se promovermos a equidade na educação, oferecendo mais recursos para os que estão em desvantagem.
Dados são frios, aparentemente neutros, porque médias escondem onde os problemas mais sérios se localizam e, de certa forma, podem invisibilizar as comunidades, famílias e instituições por trás deles.
A divulgação de avaliações como o Pisa deve servir a dois propósitos: mobilizar o debate sobre a qualidade da educação e promover a reflexão dos gestores e profissionais da educação sobre suas práticas.
Os resultados do Pisa provocaram, por parte de especialistas, críticas de que estamos na "lanterninha". Como resposta, os responsáveis pelas políticas educacionais justificam a má avaliação pelo fato de o Brasil ter incluído os mais vulneráveis e marginalizados em seu sistema escolar.
Não podemos, no entanto, em nome da inclusão, abrir mão da qualidade. É preciso enfrentar esse desafio com políticas públicas que promovam a equidade.
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