O Globo, 8/12/2013
Não é para entrar em depressão, mas também não é para comemorar. Nos dois testes internacionais a que foi submetido esta semana — o do ensino médio e o do superior — o nosso sistema educacional não foi totalmente reprovado e até melhorou, mas também não “passou” com louvor. Sob certos aspectos, o desempenho foi medíocre.
No primeiro exame, o Pisa, que avalia alunos de 15 anos de 65 países, o Brasil foi o que mais avançou em matemática entre 2003 e 2012, mas mesmo assim continua lá atrás, ficou em 58º lugar e, em leitura, foi pior, caiu dois pontos para a 55ª colocação. Em Ciências, permaneceu onde estava, na 59ª posição.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, considerou o resultado “uma grande vitória”, mas o responsável pelo Pisa, Andreas Schleicher, acha que temos que “acelerar muito o ritmo de melhoria”, investindo mais em professores e dando aos alunos pobres melhores escolas, para não continuar fazendo feio.
Se as conclusões do Pisa comportam interpretações que podem ser mais ou menos pessimistas, os dados referentes à educação superior não deixam dúvidas: foram péssimos. Segundo a consultoria britânica Times Higher Education, que realizou a pesquisa e estabeleceu o ranking, o Brasil só conseguiu incluir quatro universidades entre as cem melhores dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de outros 17 países emergentes.
O melhor lugar que obtivemos foi o 11º, com a USP, seguido pela Unicamp, em 24º. A UFRJ, em 60º, e a Unesp (Universidade Estadual Paulista), em 87º, completam a nossa representação.
Para se ter uma ideia, a China, que aparece no topo da lista, como já aparecia no Pisa, emplacou 23 instituições entre as 100 mais. E Taiwan, 21. A nossa má performance não pode ser atribuída à falta de representação.
O ensino superior brasileiro é composto por 2.377 instituições, das quais 85% são faculdades, 8% são universidades, 5,3% centros tecnológicos e 1,6% são institutos tecnológicos. O nosso problema, portanto, não é de quantidade, mas de qualidade.
O maior de todos
Em 1994, quando visitei a prisão de Robben Island, na África do Sul, onde Nelson Mandela passou 18 dos 27 anos em que esteve preso cumprindo pena de trabalhos forçados, fiz as perguntas que todos repetiram ao realizarem um dia a mesma visita, inclusive Barack Obama: como alguém pôde sofrer tanto e sair perdoando seus algozes e promovendo a reconciliação (um de seus primeiros gestos em liberdade foi tomar café com o antigo carcereiro)? Como foi possível suportar o castigo de quebrar pedra como se fosse um Sísifo moderno, sem enlouquecer? Ali, naquela cela mínima, onde não cabia abrir os braços de tão estreita, sem cama, não tive dúvida de que num século que produziu estadistas como Churchill, De Gaulle, Roosevelt, nenhum se equiparou ao herói africano em resistência moral e superação.
Zuenir Ventura é jornalist
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