13 de dezembro de 2013

Pisa, (poucos) avanços Merval Pereira, O Globo


Nos últimos dias, dois fatos mostram que não estamos bem nos diversos níveis de nossa Educação. No Pisa (em português, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), uma avaliação internacional comparada para alunos na faixa dos 15 anos, idade em que a escolaridade básica obrigatória na maioria dos países está encerrada, continuamos na rabeira do mundo, apesar de oficialmente termos melhorado em Matemática. E, na relação das melhores universidades do mundo emergente, o Brasil tem só quatro, e na parte inferior da tabela.
Se compararmos com China, Taiwan e outros, estamos realmente bem atrasados. Qual o diagnóstico? O que falta fazer? Procurei vários especialistas em Educação para uma análise da situação, que começo a publicar hoje, iniciando pelo resultado do Pisa.
O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos, afirma que a nota brasileira em Matemática foi a que teve maior aumento entre todos os países. E destaca que os avanços brasileiros foram conseguidos com a inclusão de alunos, o que é mais difícil.
Foi o que bastou para que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, comemorasse, dizendo que, se a foto do momento ainda é ruim, nosso filme é bom. Mas, aparentemente, para os especialistas, não há razões para comemoração.
Desde Arnaldo Niskier, ex-secretário de Educação do Rio e membro da Academia Brasileira de Letras, que lembra que nossa colocação no ranking continua “vexaminosa”: 58º lugar, numa lista de 65 nações.
E pior, diz: “Em Leitura e Ciências, continuamos na rabeira”. Irônico, cita um amigo para dizer que “o grande problema da educação nacional é a falta de tempo integral. Inclusive do ministro”.
Para alguns, a melhora do Brasil em Matemática se deveu exclusivamente à mudança na composição de idade dos alunos que fizeram a prova (especialmente em 2009, quando houve um aumento maior), e, dentro de cada grupo de idade/série, não houve qualquer aumento.
Priscila Cruz, diretora executiva do movimento Todos pela Educação, diz que, se avançamos em Matemática, foi bem menos do que deveríamos. E lembra que esse avanço tem sido muito questionado: se realmente foi avanço ou fruto de mudança na amostra.
Segundo a especialista Ilona Ferrão, seria um caso de “contabilidade criativa” aplicada à Educação. A questão da amostra continua controversa, com especialistas considerando as mudanças como válidas, e outros vendo problemas de critério.
Para o sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, que vem debatendo a questão em seu blog, o que parece pacífico é o seguinte: “Se houve uma melhoria, ela foi muito pequena e se deve, sobretudo, à melhoria do fluxo escolar — o que em si não é mau, mas não há indicações de que o ensino melhorou”.
Há ainda, segundo ele, um número importante de jovens no grupo de idade do Pisa que ficaram fora da prova porque estão abaixo da série que entra na amostra — 18.8% do grupo de idade. “Se eles entrassem na amostra, o resultado seria muito pior.” Por fim, seja como for, “não há como dizer que houve uma melhora na qualidade da educação proporcionada pelas políticas do governo federal”.
Já o economista Fernando Veloso, da Fundação Getulio Vargas no Rio, acha que os resultados do Pisa são consistentes com os dados das avaliações nacionais. “O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) também mostra uma evolução em relação ao início dos anos 2000, mas uma estagnação recente nos anos finais do ensino fundamental, que correspondem à faixa etária dos alunos que participam do Pisa.
A Prova Brasil também revela que o maior progresso ocorreu em Matemática”. Veloso explica que a principal característica dos países que se destacam no Pisa é que eles oferecem educação de qualidade para todos, independentemente de sua condição socioeconômica. “Isso envolve a combinação de três elementos. Em primeiro lugar, é preciso estabelecer o que todas as crianças e jovens precisam aprender, e organizar o sistema educacional de forma a atingir esse objetivo”.
Outro ponto importante são os instrumentos de avaliação, “que devem ser utilizados de forma sistemática para obter informações sobre o desempenho dos alunos”. São necessárias ainda políticas específicas de apoio aos alunos com pior desempenho.
Segundo ele, desde meados da década de 1990, o Brasil avançou nessa direção, com a criação de um sistema de avaliação abrangente e metas do Ideb para as escolas públicas. (Continua amanhã)

Nenhum comentário:

Postar um comentário