8 de junho de 2014

HÉLIO SCHWARTSMAN, Deus e a ciência


SÃO PAULO - "Why Science Does Not Disprove God" (por que a ciência não prova a inexistência de Deus), do matemático israelense Amir Aczel, é um livro estranho. Ele consegue ser uma obra bastante informativa e agradável de ler e, ao mesmo tempo, apresenta falhas estruturais que colocam em questão o próprio plano do autor.
O principal problema, a meu ver, é que a tese central de Aczel, de que a ciência é incapaz de demonstrar a inexistência de um ente supremo, é ela mesma um truísmo. É tão óbvia que até o biólogo Richard Dawkins, o físico Lawrence Krauss e mais alguns dos chamados novos ateus, que Aczel pretende refutar, a proclamam em alto e bom som.
Daí não decorre, é claro, que não haveria aspectos interessantes a explorar nesse departamento. Na verdade, o autor faz isso com competência em diversas passagens. Mas, para dar liga a seu projeto editorial, ele acaba atribuindo a seus adversários posições muito mais fortes do que as por eles defendidas, o que faz com que a obra gire em falso em vários momentos.
Um bom exemplo é o capítulo em que ele contesta a tese de Krauss de que o Universo surgiu do nada. Aczel expõe com maestria e didatismo as diferenças entre o nada dos matemáticos e o nada de Krauss, que comporta flutuações quânticas e envolve, portanto, menos "nadidade".
O problema aqui é que o físico sempre admitiu que usa um conceito de nada (espaço vazio já regido pelas leis da física) que difere daquele do senso comum, que estaria mais próximo do nada dos matemáticos. Fica a sensação de que Aczel magnifica de forma um pouco artificial a controvérsia, o que, paradoxalmente, o aproxima do tom militante que tanto recrimina a seus adversários.


Apesar disso tudo, o livro proporciona "insights" interessantes e vale como uma boa introdução às bases matemáticas de alguns dos últimos desenvolvimentos da física.
Folha de S.Paulo, 8/6/2014

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