Em 2003, os noruegueses aprovaram uma lei que determinava que o chamado sexo frágil compusesse 40% dos conselhos das firmas de capital aberto. A expectativa era de que, no comando, elas promovessem mais mulheres e adotassem políticas favoráveis ao gênero, contribuindo para eliminar ou pelo menos reduzir as diferenças de remuneração entre os dois sexos, que persistem mesmo nos civilizados países nórdicos.
O que se verificou dez anos depois, porém, é um quadro menos alentador. O ponto positivo é que o cenário catastrofista, sempre evocado nessas situações, de que a assunção das mulheres por força de lei as transformaria em chefes "café com leite", não chegou nem perto de concretizar-se.
O negativo é que os benefícios presumidos tampouco se materializaram. As executivas promovidas aos conselhos obviamente ascenderam, mas os efeitos ficaram mais ou menos por aí. O trabalho, assinado por Marianne Bertrand, da Universidade de Chicago, não encontrou aumento no número geral de executivas, redução nas diferenças salariais nem melhora no ambiente corporativo.
O mistério aqui é por que nem a Noruega conseguiu igualdade plena nas remunerações médias entre os gêneros? Há duas explicações possíveis. Ou os mecanismos de discriminação são muito mais sutis, disseminados e resistentes do que se imaginava ou as mulheres, no agregado, não têm as mesmas ambições que os homens, fazendo escolhas que privilegiam outros aspectos da vida que não a carreira. Eu apostaria na segunda alternativa, acrescentando que há aí sabedoria. Especialmente num país desenvolvido como a Noruega, que atende às necessidades básicas de quase todos, há coisas mais interessantes para fazer do que virar chefe ou acumular poder.
- Folha de S.Paulo, 28.6.2014
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