Artigo de Isaac Roitman publicado no Jornal de Brasília
No mês de março de 2014 o Centro de Atendimento Juvenil Especializado (CAJE) foi demolido. O Centro inaugurado em 1976 tinha como missão a recuperação de jovens infratores através de medidas socioeducativas. No entanto essa unidade funcionava como as congêneres em todo o Brasil, fora de qualquer padrão e serviu de cenário para a morte de dois servidores e trinta adolescentes.
A pergunta que emerge é o que fazer com o espaço ocupado pelo antigo CAJE. Uma iniciativa de natureza popular propõe a utilização desse espaço localizado no final da Asa Norte com uma finalidade educativa, cultural e esportiva. A ideia lembra a criação do Parque Olhos D'água, inaugurado em 1994 em uma área de 21 hectares onde havia antes invasões. Esse espaço público, ecológico e de lazer tem sido plenamente utilizado pela população do Distrito Federal.
A ampliação de espaços culturais no DF é importante para que a sua população possa participar ativamente do processo de inclusão artístico e social no sentido de promover mudanças no pleno desenvolvimento humano com os valores importantes para a cidadania. Esses espaços são tidos como exemplo de participação, onde são realizadas oficinas de música de danças e de leitura, canto, artes plásticas, contação de histórias e outras manifestações culturais proporcionando momentos de descontração, valorização, reconhecimento e prazer.
A implantação de uma biblioteca moderna com um acervo de qualidade e com a disponibilidade de instrumentos modernos de informação e comunicação contribuirá certamente com a educação e a cultura, transformando um espaço de tristes lembranças em um instrumento de convergência de acesso a informação e o hábito da leitura. A biblioteca, os espaços para as oficinas, o parque esportivo e outras iniciativas poderão ser complementos para uma educação integral para os estudantes do sistema de educação básica do Distrito Federal.
A destinação do antigo espaço ocupado pelo CAJE em espaço cultural poderá também se tornar um atrativo turístico e um espaço de divulgar a cultura local e de outros povos contribuindo para o entendimento da diversidade principalmente para nossas crianças e jovens. Em recente decreto do Governador do Distrito Federal foi criado o Espaço Cultural Palavida, vinculado à Secretaria da Cultura que tem como objetivo principal proporcionar a consciência da diversidade cultural do planeta desde a primeira infância.
Não menos importante seria a construção de uma ampla sala de espetáculos onde a dramaturgia, o cinema, a dança e a música, popular e erudita, estarão a disposição de toda a população do Distrito Federal, independente de seu extrato social, que Confúcio já pregava: "A cultura está acima da diferença da condição social".
A Universidade de Brasília e outras entidades educacionais e de cultura terão um papel importante na consolidação dessa iniciativa e certamente na implantação e na sustentabilidade desse verdadeiro presente para a capital de todos os brasileiros.
A idéia tem uma legitimidade singular, pois a iniciativa está partindo da sociedade. A implantação desse novo espaço cultural e de lazer na Asa Norte é uma decisão política que deve partir de um desejo comum e deve ser discutida pela sociedade pensante e pelos representantes do povo. A união de toda a sociedade nessa iniciativa lembra a célebre frase de André Malraux: "A cultura não se herda, conquista-se". Oxalá podermos testemunhar em um curto espaço de tempo a concretização desse novo empreendimento cultural do Distrito Federal. As próximas gerações serão agradecidas a todos que no presente se envolverem nessa bela aventura.
Isaac Roitman é Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB).
(Jornal de Brasília)
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11 de junho de 2014
Mudando paradigmas, Isaac Roitman
Postado por
jorge werthein
às
14:51
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