20 de junho de 2014

HÉLIO SCHWARTSMAN, Ideias para a USP


SÃO PAULO - A pedidos, comento hoje aspectos mais estruturais da crise na Universidade de São Paulo.
Como é natural, depois que a situação de descalabro financeiro se tornou pública, surge o velho jogo de empurra, no qual ex-reitor, novo reitor, diretores e demais membros do Conselho Universitário, que aprovou generosos pacotes de aumentos e outros projetos onerosos, tentam aliviar um pouco suas culpas.
Sem prejuízo de responsabilizações individuais, devemos reconhecer que existe também culpa institucional. Há necessariamente algo de errado com o sistema de governança que permitiu que os gestores empenhassem 105% das receitas da universidade só na folha de pagamento.
Minha sensação, de quem acompanha de longe, é a de que a USP e as demais universidades públicas paulistas conservam uma estrutura de comando muito arcaica, excessivamente voltada para dentro de si mesma. Por que o reitor sempre vem dos quadros acadêmicos da própria universidade? Se sua principal tarefa é administrar a instituição, não faria mais sentido buscar um bom executivo no mercado, como faz grande parte das universidades americanas?
Eu também buscaria meios de cobrar mais compromisso fiscal do Conselho. Essa instituição, que é o órgão máximo da universidade, conta com mais de cem membros. Sabemos que um bom jeito de diluir responsabilidades é delegá-las a multidões. O desafio é encontrar um modo de tornar cada membro individualmente responsável sem matar junto qualquer traço de audácia administrativa.
Por fim, para assegurar que o Conselho represente toda a sociedade paulista, que é quem financia a USP, eu ampliaria o espaço para membros da sociedade civil, notadamente ex-alunos. Em princípio, eles desejam zelar pelo bom nome da universidade, mas já não possuem interesses materiais, como salários ou projetos específicos, o que os torna menos vulneráveis às tentações populistas.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário