23 de maio de 2012

Nascem os estudantes revoltados no México


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CIDADE DO MÉXICO — Um total de 24 milhões de jovens mexicanos, com menos de 29 anos, fazem parte do censo eleitoral. Desses, 14 milhões nunca participaram de uma eleição presidencial. Mas são eles os grandes protagonistas das próximas eleições no México, no dia 1º de julho. Enganados e ignorados, são os chamados “estudantes revoltados”, a maioria de universidades privadas, que estão cansados de uma democracia desvalorizada, e vão às ruas para protestar contra a corrupção, os partidos políticos e a manipulação informativa das grandes redes de televisão.
O estopim para uma cadeia de protestos começou no dia 11 de maio, quando o candidato presidencial do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Enrique Peña Nieto, foi vaiado durante um comício na Universidade Iberoamericana, fundada por jesuítas e localizada em uma das áreas mais importantes da capital. Em meio a gritos de “fora, fora” e “assassino”, Peña Nieto acabou deixando a palestra. O PRI respondeu acusando a universidade de ter sido manipulada por um grupo de provocadores e inimigos políticos infiltrados. A Televisa, rede de maior audiência do país e acusada de apoiar o líder do PRI, deu apenas a versão dos fatos favorável ​​ao antigo partido hegemônico.
Os protestos continuaram. Os estudantes foram às redes sociais e gravaram um vídeo em que 131 deles mostravam sua carteira de estudante, desmentindo as acusações do PRI. O vídeo motivou a criação da página web “Yo soy 132”, que convidava mais jovens universitários a participar do movimento. Logo, o site virou o assunto mais popular no Twitter, revolucionando a campanha eleitoral e surpreendendo toda a classe política.
Nove dias depois do incidente com Peña Nieto, estudantes das maiores universidades privadas do país se uniram aos da Universidade Iberoamericana na Marcha Anti-EPN (iniciais do candidato Enrique Peña Nieto), no último sábado, que levou milhares de mexicanos — perto de 46 mil, segundo os organizadores — às ruas de Cidade do México para mostrar sua oposição ao favorito nas pesquisas das eleições presidenciais. O objetivo da marcha era denunciar um suposto favoritismo midiático ao representante do PRI, que deteve o poder no país sem oposição durante a maior parte do século XX.
Do lado de fora do burburinho, sociólogos e formadores de opinião aplaudem a iniciativa. José Woldenberg, ex-presidente do Instituo Federal Eleitoral dá boas-vindas a manifestação de rejeição e espera que ela seja traduzida nas urnas: “Em uma campanha chata e sem novidades, finalmente acontece algo que estava totalmente fora do script. Mesmo que não seja uma manifestação de todos os jovens do país, mas restrito à classe média”, diz.
“É algo novo. A classe média só havia se manifestado até agora em causas universais, como a paz e a segurança”, comenta o sociólogo e jornalista Jorge Zepeda, que se mostra surpreso com os erros cometidos pelo PRI na contenção de danos. “As redes sociais são um terreno muito novo e eles não souberam evitar a catástrofe a tempo. A esquerda está muito melhor posicionada nas redes, graças, em parte, à desconfiança de Andrés Manuel López Obrador (do AMLO, partido de esquerda) pelos meios convencionais”.
Roy Campos, diretor da consultoria eleitoral Mitifsky, uma das mais respeitadas do país, ressalta que a queixa estudantil poderá se traduzir em uma maior participação nas urnas, mas que dependerá de como os políticos reagirão ao movimento. “Quem souber fazer isso melhor, subirá nas pesquisas”.

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