2 de junho de 2014

Fiocruz, Embrapa e Inpe lideram pesquisa no país

    Universidade de Leiden lança ranking de instituições de pesquisa do Brasil
    Impacto dos trabalhos e nível de colaboração internacional são pontos mais importantes da metodologia holandesa
    SABINE RIGHETTIFERNANDO TADEU MORAESDE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 2/6/2014
    A Fiocruz é o melhor instituto de pesquisa do Brasil em termos de qualidade de produção científica, e o A.C.Camargo Cancer Center é o melhor hospital.
    As informações são da Universidade de Leiden (Holanda). Pela primeira vez, cientistas da instituição usaram uma metodologia similar a de seus rankings universitários para um levantamento de produção científica. As instituições brasileiras foram as primeiras contempladas.
    Entre as universidades, a USP é a primeira colocada.
    O principal indicador dos holandeses é o impacto da pesquisa acadêmica produzida em cada instituição, ou seja, o quanto essa pesquisa é citada por trabalhos de outros cientistas.
    Ganha mais pontos a instituição que tiver mais produção científica com mais impacto (entre os trabalhos 10% mais citados).
    Outros critérios, como quantidade de trabalhos em colaboração internacional, também entram na conta.
    A metodologia de Leiden, como ficou conhecida, já vinha sendo aplicada desde 2011 para classificar universidades internacionalmente.
    No último ranking internacional de universidades feito por eles, a USP está em 678º lugar no mundo. Os primeiros lugares são todos de escolas dos EUA.
    "Agora resolvemos usar a metodologia do ranking internacional de universidades para aplicar em instituições de pesquisa", disse à Folha Everard Noyons, cientista e coordenador do trabalho.
    Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, diz que a produção de conhecimento científico é o cerne da instituição, mas ressalta que o projeto da fundação é marcado por uma visão da pesquisa para resolver problemas práticos.
    A proposta de ranquear a produção científica especificamente do Brasil, diz Noyons, veio da organização do EBBC (Encontro Brasileiro de Bibliometria e Cienciometria --área que estuda dados de produção científica).
    Acabou virando uma espécie de "exercício acadêmico" e os resultados foram apresentados no congresso da EBBC, que ocorreu há duas semanas na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
    Os resultados estão disponíveis no site do trabalho (http://brr.cwts.nl/ranking), em inglês, onde é possível classificar, por exemplo, universidades brasileiras, institutos de pesquisa e hospitais.
    A ideia do grupo, diz o especialista, é, a partir desse exercício no Brasil, trabalhar para incluir institutos de pesquisa no próximo ranking internacional do Leiden.
    Mas os rankings são medidores confiáveis da qualidade das instituições?
    "Nós não somos a favor de rankings. Mas eles existem e nós não podemos ficar de fora criticando", diz Noyons.
    Gilberto Câmara, ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) diz que os institutos não podem ser julgados apenas pela sua produção científica.
    "Não podemos reduzir instituições como a Embrapa e o Inpe à produção de artigos".
    Segundo ele, muitos projetos do Inpe, como os ligados ao monitoramento da Amazônia, dificilmente geram artigos, mas são fundamentais para a instituição.

    Instituições campeãs investem na meritocracia entre cientistas
    DE SÃO PAULO
    No Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), nas franjas da floresta da Tijuca, no Rio, a valorização do mérito é o principal fator para o sucesso da instituição, diz o seu diretor, César Camacho.
    Pequeno --tem pouco mais de 50 pesquisadores-- e extremamente seletivo, o Impa é, proporcionalmente, o instituto de pesquisa com mais publicações de impacto no país. Quase 13% dos artigos do instituto entre 2003 e 2012 são de alto impacto.
    "Procuramos permanentemente pesquisadores muito qualificados dentro de uma política de mérito e da busca pelo melhor que existe no mundo", diz Camacho.
    Em 2013, um dos seus pesquisadores, Fernando Codá, junto com colega português, conseguiu provar a conjectura de Willmore, um dos problemas mais importantes em aberto da geometria diferencial, que estabelece qual seria a melhor forma geométrica para uma rosca (ou toro, na linguagem matemática). A conjectura tem aplicações em questões da relatividade geral e da biologia celular.
    Na Fiocruz, a primeira colocada em números absolutos, o destaque são os mecanismos internos de fomento à pesquisa, fundos com recursos da própria Fiocruz disputados pelos pesquisadores.
    "São estimuladores da excelência e de uma competição saudável entre os pesquisadores", explica Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, que destaca a "relação simbiótica" entre ensino e pesquisa como um dos pontos fortes da instituição.
    Na fundação são executados atualmente mais de mil projetos, relacionados sobretudo ao controle de doenças como a Aids e a doença de Chagas, além de outros temas ligados à saúde coletiva.
    A Fiocruz participou recentemente de estudo sobre combinação de antirretrovirais ministrados a recém-nascidos para evitar a transmissão do HIV da mãe para o filho. O resultado da pesquisa alterou o padrão de tratamento da doença em todo o mundo e foi incorporada aos manuais da Organização Mundial da Saúde.

    Universidades concentram os estudos na área da saúde no Brasil
    DE SÃO PAULO
    A maior parte da pesquisa científica na área da saúde no Brasil não está em hospitais, mas em universidades e em institutos de pesquisa.
    De acordo com a avaliação feita pelos cientistas da Universidade de Leiden (Holanda) sobre a produção científica brasileira, USP, UFMG e Unicamp lideram as pesquisas na área médica no país.
    O primeiro hospital a aparecer na lista brasileira é o A.C. Camargo, em 15º lugar dentre todas as instituições que fazem pesquisa na área médica. Na frente dele há 13 universidades e a Fiocruz.
    "No Brasil os hospitais realmente não têm tradição de fazer pesquisa porque é um custo a mais", avalia Vilma Regina Martins, cientista e diretora de Pesquisa do A.C.Camargo Cancer Center.
    No A.C.Camargo há 150 pesquisadores envolvidos nas atividades de pesquisa, que consumiram R$ 23,5 milhões em 2013.
    A maior parte do dinheiro, diz Martins, vem de agências de financiamento à ciência nacionais e internacionais. Cabe ao hospital pagar o salário dos pesquisadores e de outros profissionais, como técnicos de laboratório.
    "Boa parte dos médicos também está envolvida de alguma maneira com as atividades de pesquisa", diz.
    No ano passado, os cientistas do hospital publicaram 203 artigos acadêmicos em revistas científicas.
    Hoje, o A.C. Camargo tem um banco com cerca de 50 mil amostras de tumores, com dados dos pacientes e do tratamento realizado.
    No ranking de hospitais com produção científica há quatro hospitais atrás do A.C.Camargo: três deles ficam em São Paulo e um no Rio (veja a lista no infográfico).
    Segundo o ranking, nenhuma outra região do país tem hospitais fazendo pesquisa científica de impacto.
    O segundo colocado, o Inca (Instituto Nacional de Câncer), também tem foco no estudos dos tumores.
    Nos demais, as linhas de pesquisa são mais variadas. No hospital Albert Einstein, uma das pupilas é a área de neurologia e pesquisa do cérebro.

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