3 de junho de 2014

ROSELY SAYÃO, A escolha certa


Os pais sabem que não existe escola perfeita, mas querem acertar e ganham mais e mais dúvidas
Diversas mães estão em busca da primeira escola para o filho e têm dúvidas sobre o que procurar e o que priorizar. Você sabe, caro leitor, como funciona atualmente a busca por escola para os filhos?
Em geral, os pais procuram por escolas bem avaliadas por conhecidos --que têm ou tiveram os filhos nessa escola-- ou por avaliações formais, dessas que resultam em rankings publicados pela imprensa.
Após fazerem uma lista das que consideraram as mais interessantes, visitam todas elas. E aí é que vem a parte pior: escolher só uma.
Os pais sabem que não existe escola perfeita, mas querem acertar. Por isso, investigam muito: pedem orientações a profissionais da área, procuram informações na internet e até leem artigos e livros em busca de mais conhecimento.
O que eles ganham, porém, são mais e mais dúvidas, por diversos motivos: as ciências da educação têm diversas vertentes, muitas vezes antagônicas entre si; as escolas seguem mais a tradição e os anseios sociais que lhes rendam alunos do que as novas teorias da educação; e há muitas posições diferentes sobre primeira infância e a escola.
Algumas mães têm me enviado questões muito interessantes em relação a esse assunto e que valem uma boa conversa. Começo pela pergunta aparentemente simples e direta de uma leitora: "O que é uma escola alternativa?"
Talvez essa palavra tenha começado a ser usada para qualificar escolas que se propunham a ser uma opção à escola tradicional, ou seja, que praticavam métodos novos e que se organizavam de modo diferente do já conhecido sistema escolar. Mas, pouco a pouco, a palavra ganhou um tom pejorativo. Hoje, quando se quer fazer referência a alguma escola um pouco diferente, mas à qual não se dá muito crédito, usamos a palavra "alternativa".
Escolas alternativas, no sentido original do termo --que sejam, de fato, uma substituição ao modelo tradicional de organização e de ensino --, temos poucas. Por isso, talvez essa característica nem deva contar para quem está na batalha para escolher uma boa escola.
Outra leitora fez uma observação muito perspicaz: disse que tudo o que encontrou a respeito de escola para os primeiros anos de vida foi a ênfase no brincar, mas que todas as que visitou não dão valor a isso.
É verdade: a brincadeira virou estratégia pedagógica. E é assim que se acaba com ela.
Brincar não pode ter objetivo, como brincar de amarelinha para aprender números ou pular corda para aprimorar a motricidade. O brincar é livre e busca o prazer e o entretenimento, mas provoca efeitos colaterais: aguça a curiosidade, estimula a investigação e a experimentação, intensifica a criatividade e amplia o conhecimento do mundo em todos os sentidos.
A brincadeira burocratizada, domesticada, pedagogizada, não serve para nada mais do que aborrecer a criança. E é esse tipo de brincadeira que a maioria de nossas escolas de educação infantil pratica.
As leitoras detectaram uma questão crucial em nossas escolas de educação infantil: em nome da preparação para o futuro, elas empobrecem a infância.
A melhor maneira de preparar a criança para um futuro melhor é cuidar bem do presente dela. Criança pequena, na escola, precisa ser tratada como criança pequena, e não como um futuro adulto.
Folha de S.Paulo, 3/6/2014

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