3 de junho de 2014

VLADIMIR SAFATLE , Mensalidade na USP

3/6/2014

Folha desta segunda-feira (2) deu destaque à informação de que, segundo critérios do Prouni, 64% dos alunos de graduação da USP deveriam estar a pagar mensalidade. Dentro dessa lógica, alunos vindos de famílias que ganham entre cinco e dez salários mínimos deveriam pagar 50% do valor da mensalidade, enquanto aqueles cuja família tem renda maior do que R$ 7.240 deveriam pagá-la integralmente.
A reportagem vem no momento em que a universidade volta a estar em greve devido ao congelamento de salários, a suspensão de contratações e aos cortes em pesquisa, intercâmbios e gastos administrativos. Há algum tempo, nosso novo reitor afirmou que 105% do orçamento é gasto com pessoal, o que dá à opinião pública a impressão de que a situação de crise seria resultante da USP ter se tornado alguma forma de "cabide de empregos".
No entanto, uma discussão mais honesta sobre o assunto deveria começar por se perguntar sobre o que de fato aconteceu nesses últimos anos. Pois durante anos você abriu os jornais e viu fotos de estudantes e professores se manifestando por uma universidade mais transparente e de gestão democrática.
Enquanto isso, vários segmentos da imprensa aplaudiam a antiga reitoria, comandada por alguém que gostava de se ver como um "xerife" a colocar ordem em terra comandada por vândalos. Hoje, descobrimos que por anos a universidade teve uma gestão financeiramente irresponsável sem que ninguém se perguntasse se era realmente prioritário construir tantos prédios, abrir escritórios em Cingapura, alugar imóveis fora do campus, entre tantas aberrações.
Por isso, antes de qualquer discussão, seria muito mais honesto exigir com você, contribuinte que paga a universidade com seus impostos, uma auditoria pública feita por órgão independente a fim de realmente saber como o rombo foi feito e responsabilizar quem deve ser responsabilizado. Antes disso, qualquer ilação parecerá um jogo para empurrar nas costas dos professores e funcionários problemas gerados por outros.
Sobre a eterna questão das mensalidades, há de se lembrar que, se quisermos falar em justiça social, deveríamos ser um pouco mais radicais.


Se há gente a achar que a parcela mais rica da população deve pagar pelo ensino universitário, eles deveriam parar de olhar para essa classe média e essa classe média baixa pauperizada por gastos crescentes com aluguéis, transporte, saúde e educação. Seria mais correto taxar a renda e os bens dos realmente ricos deste país, utilizando o dinheiro para financiar nossa universidade ou criar uma CPMF da educação, deixando a classe média e a média baixa em paz.

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