18 de abril de 2011

Falta segurança nas escolas públicas


18 de abril de 2011
  Diário do Grande ABC Online


Marília Montich e Natália Chaves Normal 0 21
Após o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, voltou-se a discutir a questão da segurança nos colégios públicos. A equipe do Diário visitou instituições municipais e estaduais da região e a situação encontrada é preocupante.
Em dois dias, foram visitadas 21 escolas. Em oito delas, foi possível circular livremente; a presença da equipe do Diário só foi notada quando as repórteres finalmente se identificaram.
Falta de fiscalização nos horários de entrada e saída, pouca vigilância dentro e fora das instituições e livre acesso aos corredores foram as principais falhas observadas.
Nos demais colégios, as repórteres conseguiram chegar somente até as secretarias, já que funcionários barraram o acesso.
Em São Bernardo, na E.E. João Ramalho, foi possível caminhar calmamente sem ser notado e ainda se misturar aos alunos durante o horário de entrada.
Na Escola Municipal Santo Dias da Silva, em Diadema, o portão permanece fechado, mas isso não impede que estranhos consigam passear pelos corredores que levam às salas de aula. O funcionário da portaria indica o caminho da secretaria, mas não acompanha a pessoa, que pode andar por onde quiser.
Em Santo André, a segurança foi driblada em três colégios. Na E.E. Antônio Campos Gonçalves a desatenção é tamanha a ponto de a repórter conseguir entrar na instituição sem ser percebida, passando atrás do funcionário que deveria vigiar o portão, mas na ocasião estava conversando.
A Emeief Professor Antonio Virgílio Zanibone também foi percorrida. O portão principal estava apenas encostado, quando deveria estar trancado, principalmente por se tratar de uma escola com crianças com idade entre 4 e 11 anos.
Na E.E. Oito de Abril, a situação é semelhante. O portão não fica trancado e é possível acessar a quadra de esportes pelo estacionamento.
Em Mauá, na E.E. Professora Marilene de Oliveira Acetto, a secretaria estava vazia e o portão, aberto, o que facilitou a entrada.
Em Ribeirão Pires, a situação também é crítica. Na Escola Municipal Carlos Rohn, o acesso foi fácil no período de saída das crianças. Já no ETE Ribeirão Pires, a vigilância existe, mas não questionou o motivo da entrada.
Funcionários melhor capacitados, policiais fixos na porta das escolas, detectores de metais. Qual a medida mais eficiente para garantir que alunos estudem em ambiente seguro?
Para o analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Guaracy Mingardi, é necessário que o poder público trabalhe com vigilância eficiente e garanta ronda escolar ágil para trazer a segurança de volta às escolas.
"Além disso, o tempo de resposta da polícia em casos como o do Rio deve ser rápido", comparou Mingardi. O especialista explica que o bairro onde o colégio está localizado pode determinar o risco a que essas instituições estão expostas. Quanto mais violenta a área, mas vulnerável será a escola.
Ainda segundo o analista criminal, a presença de policiais armados na porta das escolas não é a melhor opção. "Isso gera um ambiente opressivo. Adolescentes não gostam de farda e, nesse caso, se criaria uma margem de conflito."
DETECTOR
A implantação de detectores de metal nas escolas públicas é uma discussão antiga e polêmica. De autoria do deputado estadual Jorge Caruso (PMDB), o projeto de lei 0325/1999 já espera há uma década para ser votado e prevê tanto a instalação dos detectores na entrada de todos os colégios estaduais, assim como a obrigatoriedade do uso do uniforme para os alunos e da identificação para os professores e funcionários.
Segundo Caruso, o projeto surgiu como forma de evitar que os estudantes levassem armas para dentro das instituições, mas a ideia não foi bem aceita pela Secretaria de Educação na época. "Eles entenderam que a instalação dos detectores de metais tratava-se de medida muito radical e que não resolveria o problema", explica. "Realmente acho que a ação não resultaria no fim da violência, mas inibiria a ação das pessoas má intencionadas, dificultando assim seu acesso."
Questionado sobre se a possível implantação da lei causaria constrangimento aos alunos assim como acontece com frequência em bancos, o deputado é categórico: "Acho que isso não tem nada a ver. Os equipamentos se proliferaram e estão por toda a parte. Eles podem, sim, causar constrangimento para as pessoas más intencionadas."
O problema da falta de segurança não atinge apenas as escolas públicas. Quem tem filhos matriculados em colégios particulares também se preocupa, e é por isso que essas instituições estão buscando, cada vez mais, meios de garantir a paz.
Segundo Oswana Fameli, presidente da Aesp (Associação das Escolas Particulares) e diretora regional do Siesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino), as escolas particulares estão se munindo dos maiores e melhores sistemas de segurança que existem no mercado. Porém, câmeras de segurança, vigilantes em período integral e controle rígido de entrada e saída dos alunos não é garantia de que novas tragédias não venham a acontecer. "As escolas particulares, por mais que às vezes tenham sistema de segurança melhor, estão tão vulneráveis quanto às públicas", explicou.
Para a especialista, é preciso melhorar as leis. "O problema está na sociedade, e não na escola. Ela é apenas um reflexo. Ficamos de mãos atadas. Como querem culpar a escola, sendo que nem chamar a atenção de alunos nós podemos?", questionou. "Não há como culpar o colégio pela falta de segurança, sendo que os alunos entram com drogas, armas, o que quiserem nas mochilas, porque não podem ser revistados", completou.
Massacre no Realengo deixa famílias da região em alerta
Enquanto as prefeituras e Estado não adotam medidas mais eficientes, pais e responsáveis pelos alunos da rede pública de ensino estão aflitos. "Fiquei muito preocupada depois do que aconteceu no Rio. Se lá os grandes não puderam se defender, imagine os mais pequenos", comentou Maria Aparecida Paulino, 67 anos, avó de uma aluna de 6 anos matriculada na Escola Municipal Carlos Rohn, em Ribeirão.
"Fico preocupada. É preciso ter uma carteirinha de identificação, porque só o uniforme não garante", afirmou Euzanete de Oliveira, mãe de aluno da 7ª séria da Escola Estadual João Ramalho, em São Bernardo.
Procuradas, a maioria das diretorias disseram que não poderiam se manifestar sobre o assunto ou não foram encontradas no local.
No caso da Escola Municipal Santo Dias da Silva, em Diadema, segundo a diretora Erika Marta Couto existe vigilância entre às 6h30 às 23h, exceto entre às 15h e 15h30. "Mesmo tendo um vigilante, que poderia passar algumas informações à população, isso não acontece, e todos acabam tendo acesso à secretaria e, consequentemente, à escola", admitiu.
Já na ETE Ribeirão Pires, a diretora Maria Cristina Medeiros afirmou que há uma empresa terceirizada pelo Estado zelando pela segurança, e que a equipe do Diário só teria conseguido driblar essa barreira por se tratar de horário de entrada e saída de alunos.
Ainda segundo Maria Cristina, é exigida a apresentação de crachá e, no caso de pessoas desconhecidas, o procedimento padrão é questioná-las e registrar seus documentos em um livro. "Gostaria de ter mais funcionários, mas é feito cálculo que determina o número de trabalhadores de acordo com o tamanho da escola. Além disso, já pedimos catracas e câmeras de segurança para o governo", sustentou.
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação informou que as escolas estaduais são abertas aos alunos, pais, professores e comunidade. "As unidades contam com o apoio de 23 mil agentes que, entre outras funções, coordenam a entrada e saída dos estudantes. Também há o reforço da Ronda Escolar da Polícia Militar nestes períodos", completou.
Já a Prefeitura de Ribeirão disse que, em relação à Escola Municipal Carlos Rohn, a secretaria já orientou os profissionais da direção a reforçar a segurança e agora irá acompanhar o que será feito para isso dentro da escola.
As outras prefeituras também foram procuradas, mas não se manifestaram até o fechamento desta edição.

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