21 de maio de 2012

ZIRALDO A internet deu palco para o canalha, para o invejoso


RODA DA FOLHINHA -maio 22,2012
Escritor e cartunista, que faz 80 anos em outubro, diz que a criança não pode chegar à rede sem passar antes pelo livroDE SÃO PAULO
"O melhor lugar para ler é o banheiro". "Gramática só serve para especialista. Até hoje não sei o que é objeto direto e indireto". Ziraldo não precisou pôr uma panela na cabeça, como seu famoso personagem Menino Maluquinho, para divertir as crianças.
Na tarde de anteontem, no MAM, fez todo mundo rir na "Roda da Folhinha", promovida pela Folha em homenagem ao escritor e cartunista, que faz 80 anos em outubro.
O auditório do museu, no parque Ibirapuera, em São Paulo, estava lotado, a metade dele, por crianças. O evento começou com perguntas dos jornalistas (Laura Mattos, editora da "Folhinha", Morris Kachani, repórter especial da Folha, Diego Assis, editor do UOL Entretimento, e Mônica Rodrigues da Costa, jornalista especializada em crianças). A "Roda da Folhinha", contudo, priorizou a participação das crianças, o que deixou a conversa ainda mais descontraída. "É bom ser animador de auditório", disse o autor de "O Menino Maluquinho", "Flicts" e outros sucessos infantojuvenis.
Ziraldo contou causos da sua infância, da criação de seus livros, e ia divagando ("Estou lendo "Ilíada" agora. Aos 80, fui descobrir que Eneida não é uma mulher"). Às vezes, perdia o fio da meada: "Estou completamente esclerosado!", brincava, provocando mais risadas.
Ao fim do encontro, entregou a cada um dos 20 sorteados livros de sua autoria. A plateia fez fila para pedir autógrafo e tirar fotos. E ele, por mais de uma hora, recebeu a todos, simpático. "Sempre saio renovado desses encontros". Leia trechos abaixo.
LER NO BANHEIRO
O melhor lugar para ler é o vaso sanitário, tenho uma estante de livros na minha frente. Leio muito no banheiro. Não tem prazer maior do que ler. Quer dizer, tem... [risos]. Mas um dos maiores prazeres do mundo é ler.
LER X ESTUDAR
Estudar é importante para poder escolher o seu destino, mas ler é muito mais. Já escrevi 150 livros, dizem que escrevo direitinho. E nunca estudei, só li. Na hora da prova, enganava o professor porque era muito sabido. Sabia conversar sobre tudo, porque lia tudo.
Quem vai abrir sua cabeça para sacar suas escolhas é o livro. Se pudesse ler todos os livros do mundo, você seria Deus porque entenderia tudo.
IDIOTAS NA INTERNET
Tudo de que você precisa está dentro de um livro.
Seu filho não pode chegar à internet sem passar pelo livro.
Se não for capaz de escrever o que pensa e de entender o que lê, vai pra internet pra virar um idiota.
A internet está cheia de idiotas. Ela conseguiu dar palco pro canalha, pro invejoso.
A humanidade, vocês, adultos, sabem, não presta.
E você multiplica a potencialidade dessa maldade na internet...
NÃO SEI GRAMÁTICA
Se tiver alguma professora aqui ensinando gramática pra menino de dez, 11 anos, pode parar com isso! [risos]
Se você conseguir me provar que um menino de dez anos pode entender um objeto que não pode pegar, aí deixo ensinar gramática pra ele.
Mas objeto direto e objeto indireto... até hoje não sei. E olha que treino muito.
Toda informação gramatical que me deram não me fez a menor falta ao longo da vida. Gramática só serve para os especialista.
Aprenda a ler e a escrever, o resto vem por acréscimo.
MORTE E ETERNA
Meu pai era um senhor original. Deu dois nomes para minha mãe escolher para mim. Graças a Deus, ela escolheu Ziraldo, Zi de Zizinha e raldo de Geraldo. A outra opção era Gezi! Mamãe me salvou.
Depois, nasceu meu irmão. Tadinho, Ziralzi.
Mas, no interior, você pode ter qualquer nome, não tiram sarro. Conheci gêmeas que se chamavam Morte e Eterna!
LIVRO PREFERIDO
Livro é igual a filho, a gente "gosta igual".
Mas temos preferência por filho que agrada mais a gente, que dá mais atenção.
Qual o livro que me deu mais alegria? Foi "O Menino Maluquinho".
As coisas que aconteceram com o "Flicts", meu primeiro livro para crianças, também me comovem muito. Os dois mudaram a minha vida.
FAMA
Quando era menino, rezava antes de dormir: "Meu Deus, dê muita saúde ao meu pai e à minha mãe, aos meus irmãos, e fazei com que eu seja um grande homem".
Não sei de onde tirei esse pedido, mas ele me atendeu. Sou um grande homem, tenho 1,78 m de altura [risos].
Mas, depois que fiz o "Flicts", falei: "Esse vai ficar famoso, nossa senhora, muito bom esse livro" [risos].
MALUQUINHO TEEN
Eu jamais faria o Menino Maluquinho adolescente. Personagem não envelhece.
Maurício de Souza teve coragem de fazer isso com a Mônica, mas não vou fazer nunca.
Você não narra a história do personagem, mas as possibilidades do temperamento que ele tem e dos amigos dele. Se não, ele teria que viver mais de cem anos para dar conta de tantas aventuras.
"O menino cresceu e virou um cara legal" é tudo o que eu posso falar do Maluquinho. Eu tenho que manter esse personagem vivo. O Menino Maluquinho é uma instituição.
VOVÓ DELÍCIA
Descobri, na época em que criei o livro "Vovó Delícia": quando você passa dos 60, 70 anos, aumenta de maneira absurda o número de mulher bonita no mundo.
ENGANAR A MORTE
Agora, perto dos 80, pensei: acho que não vou escrever mais livro. Ou vou. Porque essa é a década da morte.
Descobri que, de todos os brasileiros que fazem 80, só 10% chegam aos 90. Todos os meus amigos mais velhos do que eu já foram, o último foi o Millôr Fernandes. Então fiz a série dos meninos intergalácticos, com um personagem para cada planeta.
Como vou lançar um por ano, só posso morrer daqui a dez anos. Foi o jeito de enganar a morte que inventei.

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