6 de maio de 2012

Maurice Strong, Rio+20



Strong: “É preciso acreditar nas promessas do governo”


Para secretário-geral da Rio 92, o momento é de ter padrões internacionais para medir responsabilidades

ESTOCOLMO - Com o complicado cenário político e econômico mundial, as negociações na Rio+20 serão difíceis. A ideia é reforçar entre os países, na conferência das Nações Unidas em junho, metas de desempenho com responsabilidade. Na avaliação de Maurice Strong, um dos artífices das discussões internacionais sobre desenvolvimento sustentável, um tema prioritário é a criação de um sistema de acompanhamento dos acordos e medidas adotados pelos países.
— É importante reconhecer que há limites em relação a acordos que podem realmente sair — disse Strong ao GLOBO, nos corredores do Parlamento da Suécia, no encerramento da conferência Estocolmo+40. O canadense coordenou o primeiro evento das Nações Unidas a debater o conceito de desenvolvimento sustentável, em Estocolmo, em 1972. Também foi o secretário-geral da Rio 92. Antes de ocupar posições-chaves na ONU, trabalhou na indústria do petróleo e foi o criador da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional. Aos 83 anos, Strong mora na China, onde é professor honorário da Universidade de Pequim e consultor. Ele se prepara para vir à Rio+20.
Quais são suas expectativas para a Rio+20?
MAURICE STRONG: Temos que reconhecer que a situação política e econômica não é nem de perto positiva, hoje, como era em 1992. Então, teremos que quebrar essa barreira. Acredito que é importante reconhecer que há limites em relação a acordos que podem realmente sair após o curto período no Rio. Então, por isso, deveríamos lançar iniciativas que possam ser continuadas depois. A Rio+20 deve ser o início de um novo processo contínuo e não um evento definitivo.
Quais os temas prioritários para a conferência?
STRONG: Há uma série de temas prioritários. Um deles é todo o sistema para medir responsabilidade, já que os governos fizeram grandes promessas no passado, em Estocolmo (em 1972), em Joanesburgo (em 2002) e na cúpula de 1992 (no Rio). Foram promessas maravilhosas. Se os países tivessem feito todas as coisas que prometeram, não teríamos um problema tão grande hoje. Responsabilidade significa que deve haver um processo no qual os compromissos reais dos governos são medidos em relação ao que estão realmente fazendo, incluindo uma forma de se reportar isso. Os governos devem ser auditados em sua performance com padrões internacionais
Qual a importância de monitorar o que os governos estão fazendo?
STRONG: A performance dos governos em relação ao que acordaram no passado servirá para dar alguma base para o povo perceber o quanto os governos estão falhando ou o quanto eles estão fazendo seu trabalho para valer. Um sistema para medir as responsabilidades seria muito importante. Também seria importante fortalecer o sistema legal. Um sistema no qual governos atingidos pelas ações de outros governos possam procurar seus direitos além de suas fronteiras. Esse princípio foi estabelecido aqui em Estocolmo em 1972 (na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano). E poderia ser ativado na Rio+20. Isso daria a oportunidade de as pessoas buscarem compensações contra danos.
Um sistema semelhante à Organização Mundial do Comércio?
STRONG: Semelhante não, mas algo na mesma linha. No entanto, não será fácil conseguir acordos nesses temas.
Que acordos têm mais chance de serem amarrados?
STRONG: O sistema para medir responsabilidades é muito factível e necessário. Outra coisa que precisamos é um sistema de financiamento, porque o dinheiro não está nas mãos dos governos, mas com as pessoas. Já fiz propostas para a criação de “bônus da Terra”, títulos que seriam vendidos para as pessoas comuns, pagando juros, para financiar o desenvolvimento sustentável de forma lucrativa. Não está fácil conseguir dinheiro com os países. E os países em desenvolvimento estão insistindo, com bastante razão, que precisam de financiamento e ajuda técnica com transferência de tecnologia para poderem contribuir com soluções para os problemas ambientais.
O senhor já disse que ideias não são o problema, a questão é passar à ação. Comparada às conferências anteriores, a Rio+20 tem mais chances de passar à ação?
STRONG: Provavelmente menos (chances) do que seria razoável. E o motivo é que as pessoas estão preocupadas com problemas políticos e econômicos. Enquanto isso, os cientistas nos informam que a situação está ainda mais difícil do que era, deixando a questão mais urgente. E as possibilidades de ação real estão ainda mais remotas do que eram. Infelizmente. Talvez consigamos dar a volta por cima. Quem pode dar a volta por cima é o povo. Deveria haver um movimento de massa popular. As mídias sociais e a internet nos dão essa possibilidade, mas acredito que não teremos esse movimento até haver o que chamo de revolução, uma revolução da sociedade civil.
O que mudou de 1972 até hoje em termos de desenvolvimento sustentável no mundo?
STRONG: Há muito mais entendimento e consciência, tanto sobre os problemas quanto sobre o que temos que fazer em relação a eles. Ainda assim, não há vontade suficiente para agir. Como disse, a questão não são as ideias, mas a vontade de agir. Há um déficit de vontade.
E qual será o papel do Brasil na Rio+20?
STRONG: Bom, o Brasil é o país anfitrião, com um governo recentemente empossado. Tem um papel importante porque o governo não quer uma conferência mal sucedida. E agora o Brasil é um país influente, ainda mais do que era em 1992. Dessa forma, o Brasil poderia dar o exemplo e fazer algumas coisas no próprio país, mostrando que tem um compromisso real.


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